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Teto de gastos: o que virá depois dele

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Meia década atrás, em resposta à escalada da dívida pública, o Brasil adotava uma nova âncora fiscal, que limita o crescimento da maior parte das despesas da União à inflação do ano anterior. De lá para cá, essa construção balançou e sofreu muitos remendos, diante de realidades como a pandemia e o vale-tudo da campanha pela reeleição. “Estamos no limite do teto há muito tempo”, afirma Monica de Bolle, pesquisadora do Peterson Institute for Internacional Economics e professora da universidade Johns Hopkins. E os seguidos truques para burlá-lo acabam por “minar sua credibilidade”. Na conversa com Renata Lo Prete, a economista credita parte do problema ao “desenho” definido no governo Temer, rígido demais e sem “válvulas de escape” para usar quando a situação do país exigir. Para ela, a largada de um novo governo “abre boa oportunidade” para que se estabeleça uma regra fiscal melhor, não sem antes atender ao imperativo de “reconstruir a base dos programas sociais”.

A cara da direita no pós-eleição

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No primeiro pronunciamento depois da derrota nas urnas, Jair Bolsonaro festejou seu mandato como o período no qual “a direita surgiu de verdade em nosso país”. Ex-ministros e outros colaboradores do presidente se deram bem em disputas por governos estaduais e vagas no Legislativo federal, movimento paralelo ao do avanço do Centrão. A despeito do estímulo ao golpismo e de outras potenciais encrencas com a Justiça, "Bolsonaro está muito bem posicionado” para liderar esse campo político no qual “a extrema-direita hegemonizou a direita”, afirma o filósofo Marcos Nobre, presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). E conta, para isso, com o “partido digital” que o promove e destrói adversários desde 2018. Na conversa com Renata Lo Prete, o autor de “Limites da Democracia” explica de que maneira esse quadro impacta o governo eleito. Para Nobre, a estabilidade política dependerá não apenas da capacidade de Lula de entregar alguma prosperidade e ampliar a coalizão para muito além do PT. “É fundamental também que surja no país uma direita democrática”, capaz de concorrer com os bolsonaristas.

Bolsonaro na trilha de Donald Trump

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Ambos passaram os respectivos mandatos lançando descrédito sobre o sistema eleitoral pelo qual chegaram ao poder. Derrotado na tentativa de obter o segundo mandato, o americano investiu meses na contestação do resultado, até insuflar a invasão ao Congresso em 6 de janeiro de 2021. Por aqui, a apuração rápida e segura, encerrada na noite do próprio domingo, inviabilizou qualquer questionamento à Justiça Eleitoral, a despeito das ameaças prévias do presidente. E este então se recolheu num silêncio de dois dias que foi a senha para os bloqueios ilegais em rodovias. Na comparação com os Estados Unidos, o Brasil padece de duas desvantagens, avalia Guilherme Casarões, professor da FGV-SP e coordenador do Observatório da Extrema-Direita. Primeiro, “um ímpeto golpista mais presente”. Depois, a opacidade das Forças Armadas, que se associaram ao atual governo e jamais manifestaram de forma inequívoca seu compromisso com a ordem constitucional. O cientista político chama a atenção para a ambiguidade das falas de Bolsonaro - que orientou os manifestantes a sair das estradas na mesma mensagem em que voltou a estimular outros atos de cunho golpista. Segundo Casarões, o presidente derrotado “vive um dilema”: quer manter seus radicais motivados e, ao mesmo tempo, não se inviabilizar como líder da oposição ao futuro governo petista.

PT: a história e os desafios à frente

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Fundado em 1980, na esteira de uma greve de metalúrgicos que deu projeção nacional a sua principal liderança, o Partido dos Trabalhadores chegou à Presidência da República 22 anos depois e lá ficou por dois mandatos de Lula e “um e meio” de Dilma Rousseff - alvo de impeachment em 2016. A partir daí, o partido atravessou um longo deserto até receber das urnas, no último dia 30, a missão de voltar ao Palácio do Planalto e “reorganizar a democracia”, em processo muito semelhante ao levado a cabo por Ulysses Guimarães e o PMDB ao final da ditadura, avalia Celso Rocha de Barros, convidado de Renata Lo Prete neste episódio. Autor do livro recém-lançado “PT, uma história”, o sociólogo avalia que se trata do “último grande partido ainda de pé” no país. Para ele, neste terceiro mandato de Lula é possível que a militância passe por uma “crise de identidade”, a partir da necessidade de fazer alianças mais ao centro - com personagens como Simone Tebet (MDB) e Eduardo Paes (PSD). Ele explica como a transição Bolsonaro-Lula pode definir a política econômica na largada do novo governo. “Quando Lula assumiu em 2003, sabia que não tinha ninguém pronto para dar golpe, o que lhe permitiu tomar medidas impopulares na economia”, lembra. E conclui falando sobre o desafio de lidar com Bolsonaro. “Essa é a grande questão da política brasileira”: com o futuro ex-presidente liderando a oposição será preciso “se preparar para uma década de instabilidade”.

A baderna a serviço de Bolsonaro

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Os dois dias de silêncio do presidente da República serviram de combustível para o bloqueio de rodovias em 24 estados por seguidores inconformados com a derrota nas urnas, movimento antidemocrático que causou prejuízos de todo tipo, além de deixar Bolsonaro isolado até dentro do próprio governo. Quando finalmente se pronunciou, passou a mão na cabeça dos desordeiros e não mencionou o adversário eleito, mas reconheceu implicitamente o resultado ao agradecer os votos recebidos e dar púlpito ao ministro da Casa Civil para declarar iniciada a transição. “Ele tentou tirar as meias sem descalçar os sapatos”, diz Maria Cristina Fernandes em conversa com Renata Lo Prete. Para a colunista do jornal Valor Econômico, Bolsonaro adotou tom de “vitimização” já de olho em eleições futuras e porque tem uma “bola de ferro amarrada nos pés” - pela primeira vez em mais de três décadas, não desfrutará de foro privilegiado. Na avaliação de Maria Cristina, a toada será essa nas próximas semanas: “ele vai esticar a corda até o último dia”.

Os primeiros passos da transição

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Vinte anos depois de ser eleito pela primeira vez, Lula terá que lidar com uma troca de guarda em tudo diferente daquela de 2002. A começar pelo fato de que, mais de 24 horas depois de anunciado o resultado, o adversário ainda não havia se pronunciado sobre a derrota. "Entre uma opção pacífica e o confronto”, o governo de Jair Bolsonaro (PL) “sempre escolheu o confronto", diz Thomas Traumann, pesquisador da FGV e colunista da revista Veja, que volta ao podcast para dar sequência à conversa com Renata Lo Prete sobre os resultados do 2° turno. O jornalista relembra “a transição modelo” entre Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e Lula. Agora será outro padrão, prevê ele. Thomas explica as regras previstas na lei que rege as transições, como a indicação, pelo presidente eleito, de nomes que terão acesso a documentos e informações antes da posse, em 1º de janeiro. Autor do livro “O Pior Emprego do Mundo”, sobre ministros da Fazenda, Thomas elenca os perfis dos possíveis escolhidos para o cargo na próxima administração. Para ele, a experiência de negociação com o Congresso é um dos ativos mais importantes, o que poderia render a indicação a quadros petistas como o governador Rui Costa (BA) e o deputado federal Alexandre Padilha (SP). Mas Thomas pondera que uma conjuntura econômica mais delicada poderia favorecer “um nome de maior confiança” do mercado, como o de Henrique Meirelles. Para ele, os sinais emitidos até aqui pela equipe do presidente eleito sugerem "um governo menos petista que os dois primeiros de Lula".

A vitória de Lula para 3° mandato inédito

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Estavam apuradas mais de 98% das urnas quando o TSE anunciou o resultado oficial da eleição para Presidente. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrou a maior votação da história do país: foram mais de 60 milhões de votos, o que garantiu a ele 50,90% do total de válidos - diante de um uso nunca visto antes da máquina pública a favor de Jair Bolsonaro (PL). “Uma vitória nos minutos finais da prorrogação”, sintetiza Thomas Traumann, pesquisador da Fundação Getúlio Vargas. Na madrugada desta segunda-feira, ele e Renata Lo Prete analisaram os dois discursos do presidente eleito: o primeiro para seus correligionários, e o segundo, para a militância, na Avenida Paulista. “Foram mensagens muito claras”, afirma o jornalista. Lula sabe que vai assumir um “país partido” e que precisa pregar um governo de amplo espectro. O petista também reconhece “que o PT sozinho não teria ganho essa eleição”: daí a importância da ampla aliança construída no 2º turno com Simone Tebet (MDB), Marina Silva (Rede) e o grupo de economistas responsáveis pelo Plano Real - além da presença de seu vice, Geraldo Alckmin (PSB). Para Traumann, no entanto, essa “grande tenda” organizada por Lula tem contradições naturais: “O que unia todo mundo era o movimento contra Bolsonaro”. Agora, entende, o presidente eleito – que assume o Planalto em 1º de janeiro de 2023 - terá que aglutinar essas forças para serem “a favor de outras pautas”.

Taxa de abstenção: a incógnita final

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Mais de 32 milhões de brasileiros não compareceram ao 1º turno, número que representa quase 21% do total de aptos a votar. “É um problema para a sociedade”, considera o cientista político Antonio Lavareda, convidado de Renata Lo Prete neste episódio. Na avaliação dele, não é natural que tantos abdiquem de participar do “principal momento da democracia”. Professor colaborador da Universidade Federal de Pernambuco e presidente do Conselho Científico do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), Lavareda explica como, em uma reta final tão acirrada, a abstenção se tornou variável de peso, e por que ela tem potencialmente mais impacto sobre o desempenho de quem está na frente - no caso da disputa presidencial, Lula (PT), que aparece com 5 pontos de vantagem sobre Jair Bolsonaro (PL) no Datafolha divulgado nesta quinta-feira. Lavareda discute o papel da gratuidade do transporte público, ampliada no 2º turno, para garantir o exercício do voto aos eleitores mais vulneráveis. “Tirar dinheiro do bolso para votar afasta compulsoriamente muitos brasileiros da urna”, diz. E recomenda olhar com especial atenção para o comparecimento no Sudeste e no Nordeste: “A abstenção pode alterar profundamente o desenvolvimento dos fatores políticos de um país”.

O papel de Minas no desfecho da eleição

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Segunda maior concentração de votantes do país, único Estado do Sudeste a dar vitória a Lula (PT) em 2 de outubro. Ali, a vantagem percentual do petista sobre Jair Bolsonaro (PL) foi praticamente a mesma do resultado nacional. Isso porque, explica Bruno Carazza, Minas Gerais é, sob vários aspectos, uma síntese do Brasil. Na conversa com Renata Lo Prete, o colunista do Valor Econômico analisa o desempenho dos dois candidatos por região do Estado no primeiro turno e as seguidas visitas de ambos nas últimas quatro semanas. Avalia o peso da máquina comandada pelo governador reeleito Romeu Zema (Novo), agora a serviço do presidente. E elenca também os apoios reunidos por Lula, que luta para conservar ao menos parte dos cerca de 600 mil votos de dianteira que obteve entre os mineiros. Carazza chama a atenção ainda para os números da abstenção, que foi elevada em partes do interior. Em Minas, conquista estratégica para a vitória nacional, “cada voto conta”.

Eleição: a batalha do salário mínimo

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Na cabeça de Paulo Guedes desde a largada do governo Bolsonaro, a ideia de desatrelar o mínimo das aposentadorias (que assim não teriam mais correção pela mesma regra) voltou ao noticiário. O vazamento, em pleno segundo turno, de um estudo do Ministério da Economia sobre formas de cobrir o rombo fiscal deixado pelo esforço pró-reeleição obrigou o presidente a jogar a bola para o mato. Bolsonaro agora promete dar aumento real ao salário (o que não fez no primeiro mandato), sem, no entanto, esclarecer o que aconteceria com as aposentadorias. Neste episódio, Renata Lo Prete conversa com Valdo Cruz, comentarista da Globonews e colunista do g1, para entender a disputa dentro do governo e por que o comparativo com a gestão Lula é especialmente desfavorável a Bolsonaro nesse quesito. Participa também João Saboia, professor de emérito da UFRJ. É ele quem explica a centralidade do salário mínimo na discussão econômica brasileira e seu papel na redução da pobreza e da desigualdade.

Caso Jefferson: baderna bolsonarista

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Depois de desrespeitar seguidas vezes as condições que lhe permitiam cumprir pena em regime domiciliar, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) recebeu com dezenas de tiros de fuzil e três granadas os policiais federais que foram cumprir a ordem judicial de prendê-lo. De gravidade inédita, o incidente suscita uma série de perguntas ainda sem resposta, começando pela mais flagrante: “como um condenado tinha esse arsenal em casa?”, indaga Andréia Sadi, apresentadora do Estúdio i (GloboNews) e colunista de política do g1. Em conversa com Renata Lo Prete, ela mostra como o evento de domingo desnorteou as milícias digitais a serviço de Jair Bolsonaro. De início, elas formaram uma espécie de corrente de defesa do criminoso - que, ao reagir a bala e desrespeitar o Supremo, nada mais fez do que seguir, de forma literalmente explosiva, a cartilha do presidente. Só que este, ao perceber o risco eleitoral envolvido, procurou se dissociar do aliado. Operação difícil, considera Sadi. “Ele esqueceu de combinar com a turma e deixou o bolsonarismo nu”, diz. Fora os rastros da ligação entre ambos, como o onipresente Padre Kelmon (prestador de serviços para Bolsonaro no primeiro turno, “negociador” na cena da rendição do delator do mensalão). A jornalista avalia ainda as semelhanças com o caso Daniel Silveira, outro petebista de extrema-direita condenado, ao qual o presidente concedeu perdão. Para Sadi, tudo indica que Bolsonaro se inclinava a fazer o mesmo com Jefferson, mas a campanha eleitoral e o atentado contra os agentes inviabilizaram esse caminho.

Amazônia urgente: o impacto no clima

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O desmatamento acelerado da floresta está no topo das preocupações globais com o aumento das temperaturas e os eventos extremos em diferentes pontos do planeta. E há razões de sobra para isso. Neste episódio do podcast, a cientista Luciana Gatti detalha os resultados do mais recente estudo coordenado por ela no Laboratório de Gases de Efeito Estufa do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Segundo esse trabalho, as emissões de gás carbônico na região dobraram no período 2019-2020, “principalmente por desmantelamento na aplicação da lei”. O volume de precipitações caiu 12% no acumulado (na estação chuvosa, a queda chegou a 26%), e a temperatura média subiu 0,6°. “É a nossa grande fábrica de chuva”, define Luciana. “Que estamos transformando em acelerador das mudanças climáticas”. Na conversa com Renata Lo Prete, ela explica consequências que se estendem para pontos distantes do país e atingem setores essenciais, como a produção de alimentos. Independentemente de quem vencer a eleição presidencial, Luciana não tem dúvida quanto a um ponto: “A Amazônia não aguenta mais quatro anos de destruição”.

O TSE e a avalanche de desinformação

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Na largada da campanha, o presidente da Corte, Alexandre de Moraes, prometeu coibir abusos de forma “célere, firme e implacável”. Mas o volume de fake news e outras distorções tem desafiado o ministro e seus colegas, em especial neste segundo turno. Em resposta, o tribunal aumentou a pressão sobre as plataformas, abriu investigação em torno de uma rede de notícias falsas que atuaria em favor de Jair Bolsonaro (PL) e concedeu quase duas centenas de direitos de resposta - a maioria à campanha de Lula (PT). Na noite desta quinta, eles foram suspensos, até julgamento em plenário, pela ministra Maria Claudia Bucchianeri. O conjunto das medidas revela “uma estratégia combativa”, nas palavras de Rafael Mafei, professor da Faculdade de Direito da USP. Muitos, no entanto, se perguntam se o cerco não deveria ter começado mais cedo, considerando que se trata da eleição mais mentirosa e violenta já vista no país. “O TSE responde aos desafios do momento”, pondera Mafei. “E o desafio do momento é esse”. Em conversa com Renata Lo Prete, ele recupera os anos de ofensiva planejada de Bolsonaro contra a Justiça Eleitoral e seus principais representantes. E explica como essa operação de desgaste se relaciona com as dificuldades para conter o presidente dentro das regras agora.

O voto e o peso do agro em 2022

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No cinturão do agronegócio brasileiro, que atravessa os estados do Sul, passa por São Paulo, integra o Centro-Oeste e chega a porções do Norte, o resultado das urnas no primeiro turno traduziu o expressivo apoio que o setor oferece a Jair Bolsonaro. Os elementos que explicam esse fenômeno, afirma Caio Pompeia, autor do livro “Formação Política do Agronegócio”, são “em parte econômicos e em parte ideológicos”. Em conversa com Renata Lo Prete, o antropólogo e pesquisador visitante na Universidade de Oxford recorda que o “agro se beneficiou muito nos governos petistas”, mas sempre houve resistência a políticas trabalhistas, sociais, agrárias e ambientais implementadas nas gestões Lula e Dilma. A insatisfação se misturou bem à “agenda antiesquerda” promovida pelo atual presidente desde antes da chegada ao Planalto. Assim, ele atraiu para sua órbita principalmente a pecuária e a sojicultura, dois segmentos que, neste ano, se opuseram “ferozmente” aos agroempresários dispostos a dialogar com Lula. “Os líderes do setor são muito conservadores”, ressalta Caio, e muitos foram cooptados para a promoção de pautas “antidemocráticas e contra o STF”. Nos números, o PIB nominal do agro, informa Marsílea Gombata, repórter do jornal Valor Econômico, chegou a R$ 2 trilhões - avanço muito superior, nos últimos quatro anos, ao do conjunto da economia. A expansão, explica a jornalista, tem mais motivações externas do que internas: a alta recorde no preço das commodities, a desvalorização do real diante ao dólar e a integração do agro ao mercado internacional.

Bolsonaro e a infância roubada

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Em pelo menos três ocasiões, o presidente da República não apenas sexualizou menores de idade venezuelanas como sugeriu que elas estariam se prostituindo. Um caso entre vários protagonizados por ele e por aliados como a ex-ministra Damares Alves, reveladores de um modo de enxergar a infância e a adolescência. Trata-se de mistura de fake news com uma espécie de “solidariedade seletiva”, explica neste episódio a jornalista Fabiana Moraes, do Intercept Brasil. Em “perigosa instrumentalização”, diz, “eles escolhem crianças que possam trazer rendimentos políticos claros”. Enquanto isso, ao longo do atual governo, foram reduzidos drasticamente o volume de recursos e o número de programas voltados para a proteção e promoção de crianças e jovens. Quem detalha esse processo, em conversa com Renata Lo Prete, é Thallita de Oliveira, assessora técnica do Instituto de Estudos Socioeconômicos. Na atual gestão, “a palavra adolescente sumiu do Plano Plurianual (PPA)”, observa ela, integrante de um movimento que reivindica prioridade política e orçamentária para essas faixas etárias. Mantida a atual situação, “o recado é que a gente não quer evoluir como sociedade”.

Bolsonaro com Moro: qual é a jogada

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Colocado para fora do governo em 2020 com requintes de humilhação, o ex-juiz falou o diabo do presidente - e vice-versa. Frustrado em seu projeto original de concorrer ao Palácio do Planalto, candidatou-se ao Senado pelo Paraná, e obteve sucesso justamente quando se associou de novo à imagem do ex-chefe. Este, por sua vez, levou-o a tiracolo ao debate de domingo para “encarnar a memória do antipetismo”, analisa Carlos Andreazza, âncora da rádio CBN, apresentador do podcast 2+1 e colunista do jornal O Globo. Em conversa com Renata Lo Prete, o jornalista diz que o time de futuros parlamentares ao qual Moro pertence consagrou o bolsonarismo e “anistiou criminosos da pandemia”. Como o “discurso da Lava Jato já não servia mais”, Moro topou representar a “radicalização no sentimento antipetista”. Bom negócio para Bolsonaro, avalia Andreazza, mas de ganho incerto para Moro. Se Lula vencer, o ex-ministro da Justiça ainda poderá tentar se cacifar como alternativa da direita para 2022, a despeito de sua pouca entrada com as forças políticas. Em caso de reeleição, Bolsonaro se afastará rapidamente de Moro, no qual nunca confiou - e vice-versa. “Ambos com razão”, completa Andreazza.

Populismo: do que estamos falando?

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A resposta a essa questão, que dá título ao livro recém-lançado dos cientistas políticos Thomás Zicman de Barros e Miguel Lago, passa pelo uso do termo no plural. “São populismos”, afirma Thomás. Em conversa com Renata Lo Prete, o pesquisador do Centro de Estudos Políticos da Sciences Po Paris conta que a dupla se interessou pelo tema ao constatar a utilização indiscriminada da palavra para descrever ideias e práticas de personagens tão díspares quanto Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT). Uma confusão que “normaliza a extrema-direita" e “estigmatiza a esquerda". Para Thomás, embora existam elementos comuns a diferentes tipos de populismo (como a oposição discursiva entre "povo" e "elites" e uma espécie de transgressão das formas tradicionais de fazer política), um abismo separa os dois projetos em questão. Em sua avaliação, o populismo de Lula é “emancipador”, porque incorpora ao debate setores subalternizados. Enquanto o de Bolsonaro seria “reacionário”, permanentemente mobilizando ressentimentos e medo de transformações sociais. Ao atrair ex-adversários, o petista “reforça sua característica conciliadora”, na contramão do entendimento do presidente de que o oponente é sempre "alguém a ser destruído".

A guerra nada santa de Bolsonaro

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No intervalo de cinco dias, o candidato à reeleição pelo PL compareceu a duas das maiores festas do calendário católico. No sábado, foi ao Círio de Nazaré, em Belém (PA). Na quarta-feira, à missa em homenagem à padroeira do Brasil no Santuário de Aparecida (SP). Em ambos os casos, estava em busca de “fotos com uma multidão cristã”, mirando em especial os votos dos não-praticantes, afirma Rodrigo Toniol, pesquisador de sociologia das religiões e professor na UFRJ e na Unicamp. O descontentamento manifestado por integrantes do clero diante do espetáculo eleitoreiro ameaça atrair para o presidente a imagem de “desrespeitoso” e “fariseu”, diz. Em conversa com Renata Lo Prete, o antropólogo avalia os desdobramentos dessa espécie de “motociata em Aparecida”, na qual bolsonaristas hostilizaram funcionários de emissora de TV ligada à Igreja Católica e vaiaram falas do arcebispo. Toniol detalha ainda a “tradição de conservadorismo” entre determinados grupos católicos ao longo do século 20. Participa também do episódio André Eler, diretor-adjunto da Bites Consultoria e autor da newsletter “Didaquê do Jair”, sobre a relação do presidente com os evangélicos. Ele compara o impacto desses eventos de campanha entre os públicos evangélico e católico. De um lado, alerta para a ação pró-Bolsonaro dos “influencers espirituais”, que reúnem mais de 30 milhões de seguidores em redes sociais. De outro, aponta o risco de o candidato se consolidar como uma figura pouco crível, um “camaleão religioso”.

Bolsonaro: crônica da autocracia anunciada

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Ao retomar a conversa sobre ampliar o número de ministros do Supremo, o presidente explicita o que pretende fazer no eventual segundo mandato. Além de avançar sobre o tribunal, principal muro de contenção das arbitrariedades do Executivo nos últimos 4 anos, trata-se de controlar imprensa, universidades e instituições independentes de maneira geral, até reescrever a Constituição para “tornar ilimitada a possibilidade de reeleição”. Quem expõe a cartilha neste episódio é o cientista político Fernando Abrucio, da FGV-SP. “Esse é o projeto que está na cabeça de Bolsonaro”, afirma o professor, lembrando precedentes em países como Hungria e Venezuela. Em conversa com Renata Lo Prete, ele avalia o saldo de apoios para cada um dos finalistas neste acirrado segundo turno, analisa especialmente o quadro no interior de São Paulo (hoje maior reduto bolsonarista do Brasil) e diz que a história “cobrará um preço” das elites que convalidem, por ação ou omissão, o projeto autocrático.

Guerra: a represália da Rússia

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A explosão de um caminhão-bomba na ponte que liga o território russo à península da Crimeia, anexada por Moscou em 2014, foi a senha para um ataque como não se via desde as primeiras semanas da invasão, em fevereiro. Mísseis atingiram as maiores cidades ucranianas, entre elas a capital, Kiev, matando ao menos 14 pessoas e ferindo quase uma centena. Boa parte desses lugares ficou sem energia. O incidente ainda mal esclarecido na ponte Kerch e a “resposta vigorosa” de Vladimir Putin inauguram “um novo momento da guerra”, afirma Daniel Sousa, comentarista da GloboNews e criador do podcast Petit Journal. Em conversa com Renata Lo Prete, ele rememora como se chegou a esse ponto. E destaca, entre os eventos recentes, a anexação formal pelos russos de províncias no leste e a recuperação de territórios pelo país invadido. “Foi um ressurgir da Ucrânia na guerra”, afirma Daniel, que é também professor de economia do Ibmec. Agora, a perspectiva é de “absoluta indefinição”: nos dois lados da fronteira, soam alertas de que grupos radicais podem ganhar espaço e forçar ações ainda mais violentas. Pressões internas e externas “fragilizam” a situação de Putin, que promete reagir de forma ainda mais brutal - até mesmo com armas nucleares táticas - diante de novas hostilidades. “Seria o cruzamento de uma linha vermelha, que colocaria todo o mundo em perigo”.

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