🇧🇷 Brazil Episodes

1659 episodes from Brazil

Como a Covid-19 levou um povo à beira da extinção

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Vítima da Covid, morreu aos 86 anos Aruká Juma, o último homem de sua etnia. Os Juma eram, até a década de 1960, mais de 10 mil, mas uma série de massacres dizimou este povo. Aruká é um dos mais de 960 índios que morreram após a contaminação pelo coronavírus. “O vírus foi levado de fora para dentro porque não há barreira sanitária e barreira de controle”, afirma a historiadora Neidinha Bandeira, pesquisadora da Associação de Defesa Etnoambiental Kanindé, que atua na Amazônia. Neidinha Bandeira e a médica sanitarista Sofia Mendonça, professora da Unifesp e coordenadora do Projeto Xingu, são as convidadas de Natuza Nery neste episódio. Neidinha relata o desafio de levar vacinas e alimentos aos índios de uma aldeia Uru-Eu-Wau-Wau, povo irmão dos Juma: grileiros fecharam a passagem que dá acesso à Terra Indígena e o grupo de atendimento teve que ser escoltado por policiais. Ela também conta o que será das tradições da etnia após a morte de Aruká. “Diante da ameaça de extinção, os herdeiros se autodeterminaram Juma Uru-Eu-Wau-Wau. Ele passou adiante essa ideia de residência, de que o povo não pode deixar de existir”, relata. A sanitarista Sofia Mendonça explica por que nem 30% dos índios que vivem em aldeias foram vacinados, mesmo estando entre os grupos prioritários. “Falta comunicação correta e há muitas fake news, principalmente entre os jovens”. Ela sugere que se forme grupos com pessoas e organizações de confiança para levar informações corretas às aldeias.

Covid em Portugal e os brasileiros retidos

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Nos anos que antecederam a pandemia, o trajeto era só de ida: do Brasil para Portugal. Em 2019, o número de imigrantes bateu recorde, depois de três anos de alta na migração. Agora, após um janeiro trágico da pandemia e a crise econômica, centenas destes brasileiros querem voltar à terra natal. É o caso de Claudia Soares, 35 anos, que há dois se mudou com a mãe para o país europeu. Claudia é uma das entrevistadas de Natuza Nery neste episódio. "O custo de vida ficou muito elevado. Só conseguia pagar o aluguel", conta. Médica veterinária, ela conseguiu se recolocar no mercado de trabalho do Brasil, onde espera começar em 1 de março. Mas com a suspensão dos voos entre os dois países para barrar a variante brasileira do Sars-CoV-2, ela vive a insegurança de não chegar a tempo. Claudia relata a sensação de insegurança e a expectativa da volta: "quero muito pisar no meu país e me sentir acolhida". Participa também o correspondente da Globo Leonardo Monteiro. Direto de Lisboa, ele relata como Portugal foi de exemplo no combate à pandemia ao total descontrole. "O verão chegou, e todo mundo relaxou", diz. No fim de 2020, com a chegada do inverno, o número de casos e de óbitos voltou a subir. "O governo não agiu", diz. Com viagens permitidas e com festas de fim de ano, "a conta chegou. E chegou logo". Ele lembra como autoridades portuguesas ignoraram o alerta dado pelo Reino Unido sobre a variante britânica e, agora, tentam barrar a entrada da variante brasileira.

Daniel Silveira preso e a relação dos 3 poderes

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Deputado federal eleito pelo Rio de Janeiro na fase crescente da onda bolsonarista de 2018, Daniel Silveira (PSL) subiu o tom no discurso antidemocrático. Em um vídeo, sugeriu agressão física aos ministros do Supremo e fez apologia ao AI-5, instrumento de repressão mais duro da ditadura militar. Na noite de terça-feira, o deputado foi preso pela Polícia Federal a mando do ministro Alexandre de Moraes. Nesta quarta-feira, o STF foi unânime ao confirmar a legalidade da prisão - que precisa ser confirmada pelo plenário da Câmara. “O porão das Forças Armadas nunca aceitou a abertura democrática. Hoje, esse porão é formado por aqueles que afrontam as instituições e o Estado democrático de direito e está abrigado sob as asas do presidente da República. É o caso do deputado Daniel Silveira”, afirma Maria Cristina Fernandes, colunista do jornal Valor Econômico e comentarista da CBN. Ela é a convidada de Natuza Nery neste episódio. Maria Cristina explica como o enfrentamento ao bolsonarismo radical une o Supremo, dividido pelas reações à Lava Jato. E detalha as consequências da prisão para a relação entre Jair Bolsonaro e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). “Se Lira acolhe a prisão, afeta seus planos de desidratar as instituições de controle da corrupção. E se rejeita, estará afrontando o Supremo, onde é réu”, analisa. “Para Bolsonaro, Daniel Silveira prestou um baita serviço. É uma novela que vai desviar as atenções do que realmente importa, a condução da pandemia e o futuro do Brasil”.

Poucas doses, vacinação paralisada

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Um mês depois do alívio pelo início da imunização, agora capitais param a campanha por falta de doses. E justo no momento em que uma variante mais transmissível da Covid-19 se espalha pelo país. Qual o risco de interromper a campanha agora? "Estamos perdendo a oportunidade de salvar vidas", diz o infectologista Julio Croda, um dos convidados de Natuza Nery neste episódio. Croda, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, ele pontua como desmobilizar a população para ir se vacinar pode ser prejudicial. E aponta qual deveria ser a meta de vacinação diária: "Precisamos atingir no mínimo 500 mil, 1 milhão de pessoas por dia". Participa também a jornalista Flávia Oliveira, comentarista da GloboNews que esmiúça quantas doses o Brasil já recebeu e quantas estão prometidas. "A estratégia [de diversificar a compra de vacinas] deveria ter começado no segundo semestre do ano passado e não ao fim do primeiro trimestre de 2021”, diz. Ela analisa a atuação do Ministério da Saúde. “O tempo da ciência é soberano e agora a política quer se impor à ciência. Isso não pode acontecer”, afirma.

Mais facilidades para garimpo ilegal

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Enquanto o governo federal ainda encontra dificuldade para fazer avançar seus planos de liberação ampla e irrestrita da atividade mineradora, dois Estados da região Norte vão tentando atalhos. Rondônia autorizou o uso de dragas e balsas para retirar minérios de seus rios. E Roraima foi mais longe: legalizou a exploração, sem necessidade de estudos prévios, em terras estaduais. E com um agravante que vai na contramão de compromissos internacionais assumidos pelo Brasil: a utilização de mercúrio. Substância que “contamina os rios, os peixes e as pessoas”, descreve James Alberti, jornalista do Fantástico que é um dos convidados deste episódio. Participante de uma investigação internacional que traçou a rota do contrabando de mercúrio aqui e em países vizinhos, Alberti identifica as duas portas de entrada, Bonfim (RR) e Guajará-Mirim (RO) e explica: “O garimpo clandestino não é mais como antigamente, é uma estrutura milionária. Usam máquinas de R$ 700 mil, R$ 2 milhões, e cooptam falsas lideranças para entrar em áreas protegidas”. O outro convidado é o procurador Edson Damas, do Ministério Público de Roraima, que começa por esclarecer a ficção de que o garimpo se daria em terras estaduais: na verdade, o que existe para ser extraído está principalmente em terras indígenas. Ele analisa a inconstitucionalidade da lei, já sob contestação no Supremo: ela trata de “bens da União e invade competência exclusiva da União”.

A reinvenção dos sem-Carnaval

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Uma das maiores festas populares do mundo é também, para milhares de brasileiros, trabalho duro, que se estende pelo ano inteiro. Limitados pela Covid-19, eles foram à luta. Os bonecos gigantes de Leandro Castro este ano não desfilarão pelas ruas do Recife e de Olinda, mas serão vistos em exposição, e com novidades: “Não poderia faltar homenagem à classe guerreira de médicos e enfermeiros", ele diz. À frente de um projeto voltado para a inclusão de jovens em São Paulo, a percussionista Silvanny Sivuca viu no bloco online a chance de manter o grupo coeso: “É a maneira que a gente encontrou de alimentar o coração de nossos batuqueiros, que na pandemia foram salvos pela música”. Em Salvador, Bira Jackson colocou suas três décadas de Olodum em modo de espera e foi trabalhar como motorista de aplicativo para sustentar a família: “As contas não param de chegar, e não estamos fazendo shows”. Os três, que contam suas histórias neste episódio, têm em comum a esperança na vacinação em massa como único e verdadeiro passaporte para a volta da folia.

2022: polarização em alta, centro à deriva

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O rearranjo de forças produzido pela troca de comando no Congresso mandou o impeachment para o freezer e favoreceu a reedição do confronto do segundo turno de 2018, enfraquecendo a postulação de diversos nomes que transitam do centro à direita do espectro político. “Foi o campo mais ferido”, diz Bernardo Mello Franco, um dos convidados de Renata Lo Prete. E não aconteceu por obra do acaso, completa Carlos Andreazza, que assim como Bernardo é colunista do jornal O Globo e também participa do episódio: “Desarticular, engessar o tabuleiro e garantir a polarização foi uma jogada clara de Bolsonaro”. A partir desta conclusão inicial, eles debatem a luta interna de siglas como DEM, PSDB e MDB. E também o movimento de Lula, que, com quase dois anos de antecedência, acaba de ungir Fernando Haddad para ser novamente o candidato do PT ao Planalto. A dupla avalia também quanto espaço resta para o surgimento de novos nomes e que fatores ainda podem desestabilizar o cenário que o presidente considera o mais favorável para sua reeleição.

Vacinas x variantes: o que já sabemos?

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É a questão da hora: em que medida os imunizantes disponíveis contra a Covid-19 respondem às três novas e mais contagiosas versões do coronavírus identificadas, respectivamente, no Reino Unido, na África do Sul e no Brasil. Entrevistado por Renata Lo Prete neste episódio, o biólogo e divulgador científico Atila Iamarino começa por explicar as características dessas mutações e por que apareceram a esta altura da pandemia: “Teve tempo suficiente para o vírus mudar, e mudar na presença da imunidade de quem já se curou. E conseguir escapar dessa imunidade". Lembra ainda o traço comum aos países onde elas surgiram: nos três o contágio está fora de controle. Ele detalha a tecnologia de diferentes vacinas em uso no mundo para mostrar quais têm, em teoria, melhores condições de funcionar contra as variantes. E diz que esse processo não é desconhecido: “O vírus da gripe é assim, muda todo ano. Todo ano tem duas reuniões da OMS com o mundo inteiro discutindo para onde mirar a vacina da gripe". Sem deixar de lado a urgência de fazer a vacinação avançar no Brasil, Atila destaca que ela não elimina a necessidade de investir em testes, rastreio e medidas de contenção. “Se a gente contar só com a imunização, estaremos dando força para o vírus mudar e escapar da vacina”.

Combustíveis: quem é quem nessa briga

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Desde o início do ano, a Petrobras já reajustou duas vezes o preço do diesel e três o da gasolina. Os caminhoneiros estão insatisfeitos. Jair Bolsonaro, que tem na categoria uma importante base de apoio, também está. E o mercado se preocupa com a nova política de preços da estatal, que amplia o prazo para acomodar as oscilações do mercado internacional. Além de carregar os traumas do intervencionismo (governo Dilma) e de uma greve de caminhoneiros que parou o país e derrubou o PIB (governo Temer). Neste episódio do podcast, Renata Lo Prete conversa com Álvaro Gribel, repórter do jornal O Globo, que detalha a formação do preço dos combustíveis e prevê outros aumentos para breve: “A empresa ainda não conseguiu zerar sua defasagem”. Ele analisa o fator câmbio, o impacto sobre a inflação e a ideia, ventilada por Bolsonaro, de resolver o problema reduzindo o ICMS, imposto que sustenta os Estados. “A solução proposta não é uma solução”. O mesmo pensa Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Estamos em uma crise profunda, e a arrecadação este ano será frágil para Estados e União. Não tem espaço fiscal para cortar impostos”, afirma. Vale aposta num cenário de alguma acomodação do governo com os caminhoneiros, mas sem interferência na Petrobras. E num avanço modesto da agenda econômica do governo no Congresso, sem reformas de grande impacto.

Geopolítica da vacina: os emergentes

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A população mundial já protegida contra a Covid-19 é ínfima (0,5% do total) e concentrada em países ricos. Eles, que abrigam cerca de 16% dos habitantes do planeta, abocanharam 60% das doses até aqui disponíveis. Os demais “ficaram com uma espécie de xepa” de vacinas como as das farmacêuticas Pfizer, AstraZeneca e Moderna. A imagem é da economista Monica de Bolle, professora na Universidade Johns Hopkins, com especialização em imunologia e genética pela Escola de Medicina de Harvard. Em conversa com Renata Lo Prete neste episódio, Monica explica que, no vácuo deixado pelas compras desenfreadas dos ricos, três países entraram em cena com imunizantes próprios e vontade de ampliar seu papel: Rússia, China e Índia. “São eles que estão atuando para a cooperação global, claro que pensando também nos próprios interesses". Papel ainda mais estratégico, lembra a economista, quando se verifica que o consórcio coordenado pela OMS nem de longe dará conta de suprir as necessidades dos países menos bem posicionados na corrida da vacinação. Para o Brasil, que precisa - e muito - das vacinas de seus parceiros de BRICS, pode haver outra oportunidade: ainda dá tempo de o país se posicionar neste mercado, usando sua experiência de produção e imunização em larga escala.

Ser escravo doméstico no século 21

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Desde 1995, segundo dados oficiais, mais de 55 mil pessoas foram libertadas de situações análogas à escravidão no Brasil. A maioria estava no campo, mas o crime ocorre também nas cidades, com uma frequência que chama a atenção das autoridades envolvidas nos flagrantes. No caso mais recente a ganhar destaque no noticiário, uma mulher de 63 anos passou quatro décadas a serviço de uma família que, além de submetê-la a condições humilhantes, ficava com toda a sua suposta remuneração -inclusive o auxílio emergencial da pandemia. Os responsáveis "tiram as referências da vítima e se aproveitam disso", explica Alexandre Lyra, auditor fiscal do trabalho que participou dessa operação de resgate, num bairro do Rio de Janeiro que se chama Abolição. Com base em longa experiência, ele enumera o que precisa ser feito para mudar esse vergonhoso quadro: “O tripé do enfrentamento precisa funcionar. Prevenção, repressão e reparação do dano, com punição do empregador". Lyra, porém, não consegue se lembrar de nenhum que tenha sido preso. A outra entrevistada neste episódio é a psicóloga Yasmim França, que integra o Projeto Ação Integrada, desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho em parceria com a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro. Ela descreve o processo de infantilização das vítimas, que muitas vezes ignoram seus direitos mais básicos, e os sentimentos conflitantes quando encontradas pela fiscalização: “Carinho, raiva, indignação e culpa se misturam". Yasmin destaca ainda o quanto o panorama geral de desemprego e precarização do trabalho dificulta a reinserção dessas pessoas na sociedade.

Sputnik V: mais opção para o Brasil

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Sem a conclusão de todos os estudos e com poucos dados disponíveis, a Sputnik V gerou desconfiança no meio científico internacional quando aprovada para uso na Rússia, em agosto de 2020. Agora, depois de a Anvisa derrubar a exigência de estudos da fase 3 feitos no Brasil para aprovar o uso emergencial, o governo federal promete negociar a compra de 30 milhões de doses da vacina russa e também da indiana Covaxin. Antes, a Bahia já tinha ido ao Supremo para tentar adquirir o imunizante. Neste episódio, Renata Lo Prete recebe dois convidados: Álvaro Pereira Jr, jornalista da Globo que acompanha tudo sobre vacinas na pandemia, e Mellanie Fontes-Dutra, biomédica, mestre e doutora em neurociências e coordenadora da Rede Análise Covid-19. Álvaro relata como a Sputnik V entrou no cardápio de vacinas pelo mundo e se tornou uma opção para o Brasil. E como a ideia de produzir doses no laboratório brasileiro União Química, fabricante de cremes dermatológicos, gerou surpresa. Mas conta que os russos também adaptaram laboratórios para produzir doses da Sputnik. Álvaro, que esteve em Moscou no fim de 2020, conta como a população russa lida com a vacinação. Melanie detalha como o imunizante age para proteger o organismo contra o Sars-Cov-2 e explica os resultados dos estudos. Ela fala ainda dos efeitos da decisão da Anvisa, em um cenário onde há menos de 10% das doses necessárias pra aplicar nos grupos prioritários. "Vacinas como Moderna, Novavax e Covaxin podem agora ter uma possibilidade mais concreta de pedir aprovação de uso emergencial", afirma.

Vazamento de dados: você foi exposto

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Nas palavras de Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro, é “o vazamento do fim do mundo”. Endereço, nome dos familiares, salário, status na Receita Federal, número de celular... Tem de tudo atrelado aos CPFs de mais de 220 milhões de brasileiros, entre eles alguns que já morreram. Na avaliação de Lemos, um dos entrevistados neste episódio, pouca coisa sobrou sob o devido sigilo. “Está todo mundo exposto" -inclusive o presidente da República e ministros do Supremo. E exposto a todo tipo de golpe. Ainda não se sabe de onde veio o material, nem quem vazou, e a Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso. Lemos explica que o excesso de concentração de informações numa mesma base de dados aumenta o risco de eventos como este. Ele usa a imagem dos modernos navios petroleiros para defender outro modelo: “A gente tem que ter dados em compartimentos estanques, específicos e interoperáveis", diz. Renata Lo Prete entrevista também Nina da Hora, cientista da computação pela PUCRio e colunista do Gizmodo. Ela orienta sobre o que fazer e, principalmente, o que não fazer agora. "A primeira coisa é não confiar em soluções imediatistas, como site que diz que vai verificar se o seu CPF foi vazado ou não". Nina ensina como criar senhas muito seguras e formas de se proteger, como a dupla autenticação. E fala da importância de ajudar familiares mais idosos para reduzir danos.

Sucessão no Congresso, parte 2

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No segundo de dois episódios sobre a troca de comando no Legislativo Federal, Renata Lo Prete conversa com o filósofo Marcos Nobre, professor da Unicamp e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, o Cebrap. Ele prevê união sólida entre o presidente Jair Bolsonaro e o deputado Arthur Lira (PP-AL), agora no comando da Câmara. “Um casamento de chantagem mútua, em que os dois são o mesmo lado da moeda". Mas com trepidações, até porque Lira dificilmente conseguirá entregar tudo o que prometeu aos 302 colegas que votaram nele. A chamada “agenda de costumes”, eufemismo para retrocessos em diferentes áreas, tem agora condições de prosperar. “Rodrigo Maia foi um biombo”, diz Nobre. Nesse aspecto, “o verdadeiro governo Bolsonaro começa agora”. Ao mesmo tempo, ele vê um “me engana que eu gosto” na ideia, expressa pelo mercado e pelo próprio ministro Paulo Guedes, de que Lira venha a abraçar reformas amplas ou qualquer pauta mais fiscalista da agenda econômica. Nobre concorda que o impeachment foi afastado do horizonte por um bom tempo ou mesmo definitivamente. Apenas pondera que ele nunca chegou a ser uma perspectiva real, nem na era Maia.

Sucessão no Congresso, parte 1

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O ano legislativo começou com vitória maiúscula de Jair Bolsonaro, que emplacou seus candidatos na presidência da Câmara (Arthur Lira, PP-AL) e do Senado (Rodrigo Pacheco, DEM-MG). Um fôlego e tanto para um governo que lida com a dupla pressão do fiasco no enfrentamento da pandemia e da recuperação econômica que não veio. Na Câmara, a vitória é antes de tudo do Centrão, que volta a ocupar a segunda cadeira mais importante da República seis anos depois da ascensão de Eduardo Cunha. Como foram construídos os resultados desta segunda-feira? E que impacto terão sobre o biênio final do mandato de Bolsonaro? É o que O Assunto vai procurar responder em dois episódios. Neste primeiro, Valdo Cruz, comentarista da Globo News em Brasília, detalha o quadro no Senado. E Bruno Carazza, colunista do jornal Valor Econômico e autor do livro "Dinheiro, Eleições e Poder", esmiúça as manobras do Palácio do Planalto para amarrar apoio a seus candidatos. "Oportunismo, criatividade e muita negociação de bastidor”, resume Carazza ao descrever a operação que destinou R$ 3 bilhões em créditos extraordinários do Orçamento do ano passado a 250 deputados e 35 senadores, viabilizada por uma decisão do TCU no apagar das luzes de 2020. “Abriram um balcão em que os parlamentares indicavam obras que serão contratadas pelo governo ao longo deste ano”. Sem deixar de reconhecer que Bolsonaro venceu, Carazza avalia que o preço a pagar será elevado: um presidente cada vez mais refém do Centrão.

A vida de Ana no covidário em Manaus

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Na faculdade, Ana Galdina se encantou com a infectologia por ser a especialidade que permite olhar simultaneamente para “o doente, a doença e sua inserção no ambiente”. Estudou as pandemias do passado, mas jamais imaginou as cenas que há 11 meses fazem parte de seu cotidiano na ala de pacientes graves de Covid-19 no Hospital 28 de Agosto, maior porta de entrada para atendimento na devastada capital do Amazonas. “No começo, era o medo do desconhecido”, recorda, referindo-se ao sentimento dela e de colegas diante dos sintomas e da evolução dos primeiros casos. “Hoje, nosso medo é da desassistência”. No relato de Ana Galdina, 42, a Renata Lo Prete se misturam angústia, frustração e resiliência. Em sua voz, a pressão sem trégua a que estão submetidos os profissionais da linha de frente. Na sucessão interminável de plantões, a lembrança de muitas datas se perdeu, mas de duas ela não esquece: 15 de abril de 2020, quando 21 pessoas morreram em seu turno, e 14 de janeiro de 2021, o dia em que o oxigênio acabou nas UTIs de Manaus. “A gente já teve que escolher, sim, quem receberia. E ainda tem que escolher”, diz. Casada, mãe de dois filhos, ela conta que, em face de tanto sofrimento, nem voltar para eles é simples. “Eu tenho minha rotina: chego em casa e vou tomar banho. Lá eu choro, choro e choro. Preciso dessa passagem para poder estar com minha família”.

Vacina: vale usar todas na 1ª dose?

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Enquanto o governo federal diz não ter pressa para decidir se fará uma compra adicional de 54 milhões de doses da Coronavac, o Plano Nacional de Imunização contra a Covid-19 segue em marcha lenta, e o país debate a conveniência de atrasar a segunda dose, ampliando em troca o número de pessoas que estão recebendo a primeira. Presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurelio Safadi explica neste episódio o mecanismo pelo qual a vacina protege o indivíduo e o quanto é possível adiar a aplicação do reforço sem comprometer a imunização desejada -o intervalo máximo varia a depender do tipo de vacina e mesmo de uma marca para outra. Tudo considerado, Safadi aprova a adoção da estratégia neste momento: “É importante reconhecer que o Brasil tem carência de doses”. Outro que vota a favor é o médico sanitarista Gonzalo Vecina, um dos fundadores da Anvisa e professor da Faculdade de Saúde Pública da USP. Mas com uma condicionante: tem que haver um cronograma crível de chegada de novas remessas, de forma a garantir que as pessoas recebam a segunda dose em prazo aceitável. Sem isso, “é muito arriscado”. Vecina acrescenta que a medida seria apenas paliativa, e que o fundamental é o governo comprar mais doses sem demora. Daí ele julgar inexplicável a atitude do Ministério da Saúde quanto aos 54 milhões do Instituto Butantan. “Neste momento, há tanta desconfiança em relação ao Ministério da Saúde que eu tiraria o comando da campanha da pasta e entregaria ao Conselho Nacional dos Secretários de Saúde”, afirma.

O auxílio emergencial vai voltar?

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Pandemia agravada, vacinação ainda incipiente. Amarrada ao destino da crise sanitária, a economia custa a se recuperar, e no momento tem quase nada a oferecer a milhões de brasileiros que, desde a virada do ano, estão privados da tábua de salvação de 2020: o auxílio emergencial. É nesse contexto que se desenrola um cabo-de-guerra em Brasília. De um lado, a equipe econômica, liderada pelo ministro Paulo Guedes, resiste à recriação de uma despesa gigantesca, num quadro fiscal explosivo. De outro, lideranças do Congresso e do próprio Executivo defendem o resgate do programa, de olho no risco de turbulência social e no efeito negativo do fim do benefício sobre a popularidade do presidente Jair Bolsonaro. "Dentro do governo, muitos ministros acham que o auxílio não deveria ter acabado", conta Ribamar Oliveira, colunista do jornal Valor Econômico, um dos entrevistados neste episódio. Ele desfaz uma confusão frequente ao explicar que "o auxílio não é um problema de teto de gastos, mas sim de dívida pública". Participa também Cecília Machado, professora da Escola Brasileira de Economia e Finanças da FGV. Cecília reconhece que, num cenário econômico de grande incerteza, cujo elemento principal são as dúvidas quanto ao avanço da vacinação, a volta do auxílio cumpriria um papel essencial: “É o responsável pela segurança alimentar de muitas famílias”. Mas ela considera que ele só poderia voltar com alcance e valor mais modestos, e acompanhado de corte de outras despesas, para afastar o perigo de insolvência das contas públicas.

Público x privado: fila paralela da vacina?

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Sem doses suficientes nem mesmo para o primeiro dos grupos prioritários, o Brasil vê surgir uma discussão que em outros países não prosperou, em torno de delegar à iniciativa privada parte da compra e da oferta de imunizantes contra a Covid-19. A Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas propôs a aquisição de 5 milhões de doses da indiana Covaxin. E nesta terça o presidente Jair Bolsonaro confirmou ter dado sinal verde para que um grupo de empresários encomende 33 milhões de doses da AstraZeneca - metade iria para funcionários e familiares dos compradores, metade para o SUS. Problema: a farmacêutica já avisou que, neste momento da pandemia, não tem como atender clientes privados. “A gente precisa concentrar todos os recursos disponíveis para vacinar as pessoas mais vulneráveis", diz o médico sanitarista Adriano Massuda, pesquisador do Centro de Estudos em Planejamento e Gestão de Saúde da FGV, um dos entrevistados de Renata Lo Prete neste episódio. Ele lembra que os vulneráveis, no caso, não são apenas idosos e portadores de comorbidades, mas amplas fatias da população brasileira especialmente expostas ao contágio - e que não teriam acesso à vacina na rede particular. Com isso, o objetivo central, de alcançar a imunidade coletiva, ficaria cada vez mais distante. Participa também Geraldo Barbosa, presidente da associação das clínicas. “Vamos somar, não concorrer", defende ele.

A esnobada do Brasil na Pfizer

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Em setembro, o diretor-executivo global da farmacêutica ofereceu ao país 70 milhões de doses de sua vacina anti-Covid. Ainda que, em dezembro, o Ministério da Saúde tenha anunciado a intenção de comprá-las, a Pfizer revela agora que jamais recebeu resposta. E o governo brasileiro reage classificando como “abusivas” as cláusulas apresentadas e atacando a empresa por supostamente almejar um efeito de marketing ao vender para o Brasil. A nova celeuma se desenrola enquanto o país volta ao patamar de mil mortes diárias por Covid-19. “E o que nós temos de vacina até agora não é suficiente nem para atender ao primeiro grupo prioritário”, lembra Denise Garrett, vice-presidente do Instituto Sabin, que atuou por duas décadas no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA. Ela vê risco real de a vacinação ser interrompida, pois a conta de doses a chegar e do tempo que falta para o início da produção local ainda não fecha. Participa também do episódio o economista Thomas Conti, professor do Insper e integrante do Infovid, grupo interdisciplinar dedicado a divulgar informações sobre a doença. Ele desmonta ponto a ponto as alegações do governo para fustigar a Pfizer e alerta para a repercussão do caso: “O que mais preocupa é a negociação com outros laboratórios. Nossa prioridade deveria ser atrair e fazer acordos que não fizemos no ano passado. Estamos no caminho contrário”.

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