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1658 episodes from Brazil

O tapa que roubou a cena no Oscar

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Era para ser a festa que marcaria a retomada da indústria do cinema, depois de dois anos de estragos e adaptações por causa da pandemia. As estatuetas, porém, foram eclipsadas pelo incidente envolvendo o ator Will Smith e o comediante Chris Rock - o primeiro agrediu o segundo por fazer uma piada de mau gosto com o cabelo da mulher de Smith, curtíssimo em razão de uma doença. Diante da imensa repercussão, a Academia condenou a atitude de Smith, anunciando uma “revisão formal” do caso. E ele mesmo - vencedor pela atuação no filme “King Richard”- divulgou um pedido de desculpas. Para discutir os limites do humor, a questão racial e o espírito do tempo, Renata Lo Prete recebe Helio de la Peña, um dos criadores do grupo Casseta e Planeta. “Will Smith é maior do que este episódio e hoje está sendo reduzido a ele", lamenta o humorista, admirador também do trabalho de Chris Rock. Mesmo reprovando o comentário dele sobre Jada Pinkett-Smith, Helio considera que Will teria conseguido resultado muito melhor defendendo a mulher com palavras. Helio fala ainda da reverberação nas redes sociais: “Hoje em dia tem muito essa onda do comentário sobre o comentário, da opinião sobre a opinião”.

O futuro do dólar no mundo

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Cerca de 90% das transações cambiais do planeta usam a moeda americana, que responde por quase dois terços das reservas de todos os Bancos Centrais. Uma dominância que data do fim da 2ª Guerra e se tornou completa a partir da década de 70. E que agora está sujeita a debate, na esteira das sanções econômicas impostas à Rússia por ter invadido a Ucrânia. Além das reações de Moscou, movimentos recentes feitos por países como Arábia Saudita e Índia colocam em pauta a perspectiva de “desdolarização” do sistema financeiro internacional. Mas estamos longe disso, avalia o professor Ernani Torres, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em conversa com Renata Lo Prete, ele resgata o histórico da ascensão do dólar, a partir dos acordos de Bretton Woods (1944), e explica que mesmo o yuan chinês ainda não faz cócegas nessa hegemonia. “O sistema internacional é parte do americano”, diz, e não o contrário. Participa também do episódio Solange Srour, economista-chefe de Brasil do Banco Credit Suisse. É ela quem trata da trajetória de queda do dólar aqui, fruto da valorização que a guerra provocou nas commodities que exportamos e da contínua elevação da taxa básica de juros pelo BC.

Água como arma de guerra

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O alerta partiu da União Europeia: em lugares como Mariupol, os russos “estão usando a ameaça de desidratação para forçar a cidade a se render”. Um expediente tão antigo em conflitos armados quanto cruel: privar a população do item mais básico de sobrevivência. Direto de Kiev, o documentarista Gabriel Chaim relata as condições de infraestrutura e abastecimento da capital no momento em que a invasão completa um mês. Por lá, a situação ainda é bem melhor do que, por exemplo, na vizinha Irpin, onde faltam “água, comida e eletricidade”. Ele resume: “só tem bomba e bala”. Renata Lo Prete conversa ainda com Guga Chacra, comentarista da Globo em Nova York, que classifica o corte no fornecimento como “crime de guerra”, praticado para “estrangular os ucranianos”. Guga traça um panorama de guerras recentes em que essa prática também ocorreu, casos da Etiópia, Líbia, Síria e Iêmen.

O esquema dos pastores no MEC

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Às portas da campanha eleitoral, vem à tona um novo “gabinete paralelo” no governo Bolsonaro. Sem cargo ou formação para tanto, Arilton Moura e Gilmar dos Santos negociavam com prefeitos a liberação de recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, revelou o jornal O Estado de S. Paulo. Com a anuência do ministro Milton Ribeiro, que, em áudio descoberto pela Folha de S. Paulo, orienta que sejam atendidos “todos os amigos do pastor Gilmar”, “um pedido especial do presidente da República”. Há anos dedicado à cobertura dessa área, o jornalista Antônio Gois (O Globo, CBN e Canal Futura) participa do episódio para explicar o que é o FNDE e que critérios devem, segundo a lei, pautar a partilha de suas verbas. Ele mostra ainda a completa anormalidade da conduta da dupla e de quem lhe deu cobertura. Renata Lo Prete conversa também com Vera Magalhães - colunista do jornal O Globo, comentarista da rádio CBN e apresentadora do programa Roda Viva, da TV Cultura - sobre o sequestro de um dos ministérios mais essenciais da Esplanada por um grupo de interesses diretamente ligado a Jair Bolsonaro. Vera lista os possíveis crimes cometidos no caso e observa como o procurador-geral da República tenta, mais uma vez, “ganhar tempo para não fazer nada”. Enquanto isso, Milton Ribeiro balança na cadeira, cobiçada pelo Centrão - que já manda muito na pasta, mas assim teria “controle total do MEC”.

Alckmin, o improvável que virou vice

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Depois de meses de tratativas e várias opções contempladas, o ex-governador de São Paulo, um dos fundadores do PSDB, filia-se ao PSB para ser o companheiro de chapa de Lula na disputa pelo Palácio do Planalto. Uma união que fez tremer as bases do petismo, por fim enquadradas pelo ex-presidente, e emparedou antigos aliados do ex-tucano, como seu sucessor no Bandeirantes, João Doria. Neste episódio, Renata Lo Prete conversa com o jornalista Fábio Zambeli sobre a surpreendente construção que devolveu protagonismo a um político escanteado por seus próprios correligionários depois da derrota em 2018, quando ficou em 4º lugar na corrida presidencial, com menos de 5% dos votos. E também sobre a ironia do destino: o escolhido por Lula, líder de todas as pesquisas para o pleito de outubro, foi, sob vários aspectos, um eterno estranho no ninho dos grão-tucanos - de perfil orgulhosamente modesto, à direita em questões de comportamento e mais pragmático como administrador. Analista-chefe da plataforma Jota em São Paulo, Zambeli aposta que, na campanha, Geraldo Alckmin cumprirá missões pontuais, em áreas onde transita bem, como o agronegócio. “Ele sabe que não faz sentido disputar espaço com quem está encabeçando a chapa e tem os votos", resume. Mesma lógica em caso de vitória, avalia o jornalista, lembrando que Alckmin foi um vice 100% leal a Mario Covas no governo paulista: “Lula já disse a pessoas próximas que confia nele nesse sentido”.

Rússia x Ucrânia: guerra de exaustão

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Quando o conflito começou, em 24 de fevereiro, muitos imaginavam uma “conquista rápida”, típica de situações nas quais há “grande assimetria de poderio militar”, lembra Oliver Stuenkel. Quase um mês depois, assistimos a uma “guerra de atrito”, ou “de exaustão”, na qual o exército invasor avança pela lenta asfixia do adversário e à custa de extrema violência, inclusive contra civis. Na conversa com Renata Lo Prete, o professor de Relações Internacionais da FGV resgata a história desse tipo de enfrentamento, que remonta à 1ª Guerra Mundial. E diz que o mais trágico exemplo dele, no momento, é Mariupol, onde centenas de milhares de pessoas permanecem sitiadas, há 3 semanas, progressivamente privadas de água, comida e energia elétrica. Mesmo depois de reduzir a cidade portuária a escombros, os russos viram negado, nesta segunda-feira, seu ultimato para que o governo ucraniano entregasse Mariupol. Um impasse alimentado por um paradoxo, explica Stuenkel: as cenas de horror tendem a alavancar a ajuda externa à Ucrânia e, portanto, sua capacidade de resistir, mais um sinal de que a guerra está longe do fim.

Arte e guerra: de Tolstói à Ucrânia

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Afastamentos voluntários e compulsórios. Apresentações suspensas. Obras e autores cancelados. Tudo isso se vê em resposta à invasão, num boicote tão ou mais global que o das sanções econômicas, capaz de descartar inclusive artistas que, em seu tempo, foram perseguidos exatamente por se opor ao autoritarismo e a aventuras militares. Neste episódio, Renata Lo Prete recebe o jornalista e tradutor Irineu Franco Perpétuo, autor de “Como Ler os Russos” (Todavia), para entender o que se perde com esse movimento. Ele começa por falar de Liev Tolstói, o pacifista que escreveu “Guerra e Paz” e “Contos de Sebastopol” - este baseado em sua experiência na Guerra da Crimeia (1853-1856). Ainda nos clássicos, trata de nomes que por si só representam o entrelaçamento histórico dos países agora em conflito - como Gogol, nascido no que foi o Império Russo e hoje é uma cidade ucraniana. Nesse sentido, Irineu aponta como especialmente emblemático o caso da Nobel de Literatura em 2015 Svetlana Alexijevich, cidadã bielorrussa nascida na Ucrânia e que escreve em russo (“Vozes de Tchernóbil” e “A Guerra Não Tem Rosto de Mulher”, entre outros). Música e cinema também fazem parte desta conversa sobre o lugar da arte em tempos de guerra.

O que poderia parar a guerra

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Enquanto o mundo assiste à tragédia humanitária em cidades ucranianas, sinais contraditórios emergem da mesa de negociação que reúne representantes de Kiev e de Moscou. Organismos multilaterais protestam contra ataques a alvos civis em termos cada vez mais duros. As palavras, porém, não têm surtido efeito. Para entender o que poderia interromper a destruição, Renata Lo Prete conversa com o historiador, diplomata e ex-ministro Rubens Ricupero, que recomenda tomar com cautela as declarações de autoridades participantes desses encontros. “Em geral, a negociação só evolui quando os dois lados têm mais a perder do que a ganhar com a continuidade do conflito”, diz Ricupero, que foi embaixador do Brasil em Washington. Ainda não é o caso da Rússia, diz ele, muito superior ao oponente em termos militares. Mas pode vir a ser, completa, porque a guerra custa caro, e vai se revelando mais longa e difícil do que imaginava o Kremlin. Na entrevista, Ricupero enumera os principais pontos que, em seu entender, eventualmente conseguiriam balizar um cessar-fogo - da “neutralidade” à aceitação de perda de território por parte dos ucranianos. Não descarta, porém, que a Rússia aceite um acordo apenas para ganhar tempo e mobilizar mais tropas. Estabelecendo comparações com outras guerras, ele afirma que, desta vez, Putin involuntariamente fortaleceu os laços da Otan, desencadeou o rearmamento europeu e “reativou como nunca o sentimento nacional dos ucranianos”.

Bolsonaro: sinais de recuperação eleitoral

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Depois de longo período de desgaste, o presidente da República retoma fôlego em pesquisas sobre o pleito de outubro. Embora continue ampla, a distância que o separa do primeiro colocado, Luiz Inácio Lula da Silva, diminuiu um pouco, movimento que analistas atribuem a pelo menos dois fatores: população com menos medo da pandemia (ainda um dos quesitos de maior desaprovação a Bolsonaro) e iniciativas do governo de impacto direto para os mais pobres, notadamente o Auxílio Brasil. Neste episódio do podcast, Renata Lo Prete conversa com o cientista político Antonio Lavareda, presidente do conselho científico do Ipespe e professor-colaborador da Universidade Federal de Pernambuco. Ele avalia as chances de consolidação dessa curva ascendente, considerando as incógnitas no front que, a seu ver, será determinante na disputa de 2022: o da economia, que, com a guerra na Ucrânia, ficou ainda mais vulnerável. Para Lavareda, o novo status de Bolsonaro estreita bastante o caminho que poderia levar algum nome da chamada “terceira via” a tomar-lhe o lugar no segundo turno. É esse ponto do calendário que o presidente já mira, tentando vitaminar o antipetismo, do qual foi o grande beneficiário em 2018. Missão complexa, prevê Lavareda: “Esta eleição será necessariamente sobre o governo dele”.

3ª Guerra: do que estamos falando

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Poucos dias depois de Joe Biden reafirmar que um eventual ataque a país integrante da Otan terá resposta defensiva, os russos bombardearam uma base militar ucraniana a apenas 25 km da fronteira com a Polônia - que integra a aliança. A proximidade entre os dois eventos, somada à escassez de progressos no campo diplomático, faz crescer o alerta em torno da possibilidade de o conflito na Ucrânia ganhar dimensão planetária. Um cenário que o professor de Relações Internacionais Tanguy Baghdadi considera improvável, porque indesejado por ambos os lados e também pelo potencial destruidor, que transformaria as duas primeiras Guerras Mundiais em mero “ensaio". Ele reconhece, porém, que alguns elementos característicos de um conflito global - como envolvimento, em algum grau, de todas as potências - estão presentes na atual conjuntura. E que a situação pode sair de controle. Direto de Lviv, o jornalista Lucas Ferraz explica a posição estratégica da cidade e da região onde ela fica: “O oeste ucraniano é a porta de saída dos refugiados e a porta de entrada de ajuda humanitária e equipamentos militares”. A única que restou: as fronteiras norte, leste e sul do país já estão quase que inteiramente sob domínio russo.

Pandemia: por que ainda não acabou

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Em março de 2020, a OMS conferiu à doença provocada pelo então “novo” coronavírus o status que ela tem até hoje. O mundo acumula mais de 6 milhões de mortes e quase 500 milhões de casos conhecidos de Covid, mas a curva descendente dos indicadores no Brasil, depois do arrastão produzido pela variante ômicron, faz com que muita gente desconsidere duas realidades. Primeiro, a de que ainda morrem, em média, mais de 400 pessoas por dia da doença no país. Segundo, a escalada de contágio que se vê no momento em regiões da Europa e da Ásia - sobretudo na China. A esta altura, está claro que “o vírus vai ficar entre nós”, afirma a epidemiologista Ethel Maciel, e que precisamos agir para “reduzir os danos”. Em entrevista a Renata Lo Prete, a professora da Universidade Federal do Espírito Santo aponta as principais omissões do governo brasileiro nessa tarefa: ausência, até hoje, de um programa consistente de testagem e falta de medicamentos eficazes contra a Covid (e já aprovados pela Anvisa) no SUS. Fora a “intensa campanha de desinformação”, liderada pelo presidente e pelo ministro da Saúde, contra a vacina pediátrica. Tudo somado, e derrubada a maioria das medidas de restrição, resta ao brasileiro analisar por si “como se comportar”. No caso específico das máscaras, Ethel recomenda usar em pelo menos 3 situações, mesmo sem a obrigatoriedade: ambientes pouco ventilados, aglomerações e na presença de pessoas pertencentes a um dos grupos de maior vulnerabilidade.

Rússia: o fechamento do regime

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Enquanto proliferam imagens da destruição na Ucrânia, está cada vez mais difícil obter informações confiáveis sobre o que acontece no país invasor. Em paralelo à ofensiva militar, o Kremlin acelerou o processo de silenciamento da imprensa independente, transformou os veículos oficiais em máquinas de propaganda e obteve do Congresso uma nova lei de censura, que permite encarcerar alguém simplesmente por chamar a guerra pelo verdadeiro nome, e não de “operação especial”. Quem protesta enfrenta a mão pesada das forças de segurança, que têm prendido até idosos e crianças em manifestações. “Regimes autoritários se sustentam em três pilares”, lembra Vicente Ferraro, mestre em ciência política pela Escola Superior de Economia de Moscou: ideologia (desumanização do adversário e união contra suposta ameaça externa, por exemplo), repressão e sensação de bem-estar material por parte da população. O professor da USP explica que os dois primeiros elementos estão presentes na conjuntura russa — e podem trazer ganhos de popularidade a Vladimir Putin, como já ocorreu na esteira de outras aventuras bélicas sob seu comando. Mas a prosperidade do início dos anos 2000, época do conflito na Chechênia, não existe agora. A Rússia é o país mais sancionado do mundo, e a população já começa a pagar por isso. Na avaliação de Vicente, é cedo para saber se a Rússia migrará da autocracia para o totalitarismo puro e simples. “Há um um esforço do governo para obter controle total da sociedade, mas ele ainda não tem capacidade de exercê-lo plenamente”.

Chile: a largada do governo Boric

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Foram quase três meses desde a vitória nas urnas. De lá até a posse, nesta sexta-feira, o ex-líder estudantil Gabriel Boric colecionou ineditismos, começando pela própria idade. Com 36 anos, é o mais jovem ocupante do Palácio de La Moneda - e o primeiro sem origem em nenhum dos dois grupos políticos que se revezaram no poder desde o fim da ditadura militar, em 1990. Montou um ministério diverso, de maioria feminina e ampla troca de guarda geracional. “É uma novidade bastante grande para a região, o que cria expectativa”, sintetiza Claudia Antunes, editora de Mundo do Jornal O Globo. Na conversa com Renata Lo Prete, ela analisa também a decisão de indicar, para o comando da economia, o presidente do Banco Central do agora ex-governo de Sebastián Piñera. Um movimento de composição de forças e aceno ao mercado, diz a jornalista, que deve ser entendido à luz de duas circunstâncias deste início de mandato: falta de maioria no Congresso e uma Assembleia Constituinte ainda em curso. É nesse ambiente volátil que Boric terá que atender, como ele próprio admite, “pelo menos parte” das demandas por mais serviços públicos e menos desigualdade social que o levaram à Presidência.

X-Tudo: projeto para liberar geral em terras indígenas

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O apelido vem do amplo espectro do texto enviado pelo governo Bolsonaro ao Congresso. Além de garimpo, autoriza construção de hidrelétricas, exploração de petróleo e até cultivo de transgênicos. “É a pior” de quase duas dezenas de propostas apresentadas para regulamentar a mineração nessas áreas desde que entrou em vigor a atual Constituição, em 1988. A avaliação é de Marcio Santilli, que foi deputado constituinte, presidente da Funai e um dos fundadores do Instituto Socioambiental. “Uma aberração”, continua ele, patrocinada pelo Palácio do Planalto com apoio engajado do comando da Câmara - nesta quarta-feira, a Casa aprovou urgência para levar o PL 191 a votação. Se for aprovado, vai parar no Supremo, aposta Marcio, tão flagrantes são suas inconstitucionalidades. E isso reforçará o ambiente de insegurança jurídica, benéfico apenas à “garimpagem predatória”, que “já vem barbarizando” essas terras há muito tempo e ao arrepio da lei. Para Alessandra Munduruku, primeira mulher a presidir a Associação Pariri, que representa aldeias do médio Tapajós, trata-se de “um projeto de morte”, ao qual ela promete resistir: “Jamais vou me ajoelhar diante de quem quer destruir meu povo”.

Deu a louca nas commodities

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O anúncio do boicote dos EUA a petróleo e gás da Rússia é o novo motor de uma escalada de preços que começou ainda antes da invasão à Ucrânia e já levou o barril a quase US$ 140, recorde em 14 anos. Um movimento em linha com “a narrativa” da Casa Branca em resposta à guerra, mas de efeito interno limitado, já que os americanos compram menos de 10% de seus estoques dos russos. Quem pondera é a professora da FGV Fernanda Delgado, observando que países europeus, mais dependentes de Moscou nessa matéria, optaram até aqui por outras sanções. Em entrevista a Renata Lo Prete, a diretora-executiva do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) analisa o esforço diplomático dos EUA para encontrar alternativa inclusive com desafetos, como Venezuela e Irã, além de tentar convencer a Arábia Saudita a aumentar sua produção. E opina que a crise atual pode acabar atrasando a tão desejada transição para energia limpa. “O investimento de longo prazo seguirá com essa preocupação, mas, no momento, segurança é mais importante do que transição ou preço”, diz ela, que prevê aumento da demanda por carvão, por exemplo. Participa também Lucilio Alves, professor da Faculdade de Agricultura da USP, para tratar de outras commodities em disparada, em especial trigo e milho. Juntas, Rússia e Ucrânia responderam por 30% e 18%, respectivamente, das transações globais desses dois produtos nos últimos cinco anos. Enquanto países “buscam outros fornecedores”, a inflação dos alimentos seguirá pressionada, ele afirma, lembrando que o Brasil depende da importação do trigo.

Crimes de guerra: violações da Rússia

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Imagens de ataques a alvos civis e de áreas residenciais alvejadas na Ucrânia correm o mundo. É o caso do vídeo, feito por uma equipe do jornal The New York Times, do momento em que uma mãe e seus dois filhos são mortos por um explosivo quando tentavam fugir do cerco russo a Irpin, cidade próxima à capital, Kiev. É uma “guerra em tempo real”, afirma Flavia Piovesan, ex-secretária nacional de Cidadania e ex-integrante da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Ela se refere ao contínuo compartilhamento desses registros, do qual resulta um fenômeno que o jornalista americano Thomas Friedman chama de “globalização do repúdio moral” à invasão. Em entrevista a Renata Lo Prete, ela lembra que mesmo conflitos armados precisam respeitar “limites éticos e jurídicos”. Aperfeiçoado desde o fim da Primeira Guerra Mundial, esse regramento está hoje inscrito no Estatuto de Roma, assinado em 1998, e os casos afeitos a ele são analisados pelo Tribunal Penal Internacional. No entender da professora da PUC-SP, o que está acontecendo na Ucrânia dá margem a investigação e processo por crimes de guerra, contra a humanidade e de genocídio. Ela reconhece que não será simples fazer Vladimir Putin se curvar ao TPI, mas defende a importância de a comunidade internacional perseguir esse objetivo: “Para que não sejam punidos apenas os executores, mas os arquitetos da destruição”.

Guerra na Ucrânia: oligarcas na mira

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Alexei Mordashov, Alisher Usmanov, Igor Sechin. São alguns dos homens que construíram imensas fortunas privadas a partir dos escombros do Estado soviético, no início dos anos 90. Um “processo obscuro”, resume o jornalista Jaime Spitzcovsky, azeitado por laços estreitos com o governo russo, que lhes permitiu dominar setores como energia, mineração, telecomunicações e finanças. Na conversa com Renata Lo Prete, o ex-correspondente em Moscou, hoje colunista da Folha de S.Paulo, explica a origem, as relações e como essa elite foi enquadrada internamente. “Desde o início, o projeto do Putin é claro: restaurar o poder do Kremlin”, corroído nos anos de Mikhail Gorbatchov e Boris Yeltsin. Agora, com sanções que vão do congelamento de fundos ao sequestro de alguns dos apartamentos e iates mais valiosos do mundo, os EUA e seus aliados pretendem indispor esses bilionários com Moscou. Ainda é cedo, avalia Jaime, para saber se vai funcionar. “O que já dá para dizer é que a vida deles vai ficar bem menos confortável”, ironiza. Participa também do episódio Rodrigo Capelo, jornalista do ge e do Sportv. Especializado na cobertura de negócios do esporte, ele analisa a ascensão dos oligarcas russos no futebol e, em particular, a trajetória de Roman Abramovich, que na esteira das sanções anunciou a decisão de vender o Chelsea, clube inglês que comprou em 2003.

Guerra na Ucrânia: a ameaça nuclear

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Vladimir Putin prometeu “consequências nunca vistas antes” a quem tentar impedir o avanço de suas tropas. E já acenou explicitamente com uma carta que provoca o maior de todos os medos. Afinal, ninguém supera a Rússia hoje em número de ogivas - são mais de 6 mil. Na avaliação de Vitélio Brustolin, professor da Universidade Federal Fluminense e pesquisador de Harvard, trata-se da situação mais perigosa desde os “13 dias que abalaram o mundo”, durante a Crise dos Mísseis, que envolveu EUA, União Soviética e Cuba em 1962. Na conversa com Renata Lo Prete, ele explica que o arsenal global diminuiu 80% com o fim da Guerra Fria, mas se tornou mais destruidor - as atuais bombas são milhares de vezes mais poderosas do que as lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki, em 1945. Fora o descontrole: menos respeito aos tratados em vigor, mais integrantes no clube dos países que têm esse tipo de armamento. Apesar da ausência de limites demonstrada por Putin na operação ucraniana, Vitélio considera que o presidente russo tenta tirar os adversários do prumo, mas não executará uma ameaça que representaria a “destruição total”. Para o professor, “mesmo na guerra os líderes tomam decisões racionais”.

Notícias de Kiev, por Gabriel Chaim

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No momento em que os russos intensificam os ataques contra as principais cidades ucranianas, O Assunto ouve Gabriel Chaim, um dos poucos jornalistas brasileiros a permanecer na capital do país. Fotógrafo e documentarista, com larga experiência na cobertura de guerras, ele chegou a Kiev dias antes da invasão, encontrando um centro urbano repleto de vida e história, que o fez lembrar de Praga, na República Tcheca. Não mais: o cenário que Gabriel descreve agora mistura o desespero de quem tenta ir embora e as estratégias de sobrevivência de quem decidiu ou simplesmente se resignou à ideia de ficar. Na principal estação ferroviária, milhares de pessoas que não sabem “qual será o próximo trem e para onde ele vai”. Em residências semidestruídas pelos bombardeios, “principalmente idosos, com menos mobilidade e menos recursos” para fugir. O momento “é crítico”, diz Gabriel, referindo-se ao cerco à capital e aos limites da resistência da população. “Ninguém sabe o que vai acontecer amanhã”.

Guerra na Ucrânia: os refugiados

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Em uma semana de invasão russa, mais de 600 mil pessoas deixaram o país - de trem, carro e até mesmo a pé. A ONU e a União Europeia estimam que esse número pode chegar a 4 milhões em questão de dias. Uma tragédia humanitária narrada neste episódio por dois repórteres, um de cada lado da fronteira. O fotojornalista André Liohn conversa com Renata Lo Prete a partir de Lviv, cidade a cerca de 60 km da Polônia que virou um “lugar de separação”. Como o governo tornou obrigatória a permanência de homens entre 18 e 60 anos, muitas famílias precisam seguir viagem partidas. “Uma menina, criança, perguntou para o pai: 'numa guerra todo mundo tem que lutar?’” André completa o relato: “Ele respondeu apenas que mulheres e crianças não, mas percebeu que a filha havia compreendido que eles se separariam". Da Polônia, onde os que têm sucesso na fuga chegam exaustos, depois de jornadas que duram dias, em condições precárias e sob frio gélido, fala o correspondente da TV Globo Rodrigo Carvalho. O país já recebeu mais de 370 mil pessoas, numa política de braços abertos no momento adotada também por Hungria, Moldávia, Eslováquia e Romênia - e que contrasta com barreiras impostas, no passado recente, a refugiados vindos da África e do Oriente Médio. Rodrigo resgata histórias duras, “que levamos tempo para processar”, como a de um idoso que mal conseguia caminhar com as próprias pernas no posto de imigração. O jornalista descreve também o fluxo contrário - muito menor, mas mesmo assim surpreendente. São ucranianos vindos de outras partes da Europa para combater em seu país de origem. Ou casos como o da mulher que disse a Rodrigo estar voltando, mesmo ciente do perigo, para cuidar da mãe idosa em Lviv.

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