🇧🇷 Brazil Episodes

1658 episodes from Brazil

Guerra na Ucrânia: asfixia econômica da Rússia

From O Assunto

Cinco dias depois dos primeiros ataques ao território ucraniano, Moscou sente o aperto total das sanções. Enquanto o exército de Vladimir Putin tenta tomar Kiev, o Banco Central russo vê congelada boa parte de suas reservas internacionais, hoje estimadas em US$ 630 bilhões. Fora a exclusão do Swift, sistema internacional que interliga pagamentos ao redor do mundo. Para conter a queda livre das ações, a Bolsa de Moscou foi fechada - e assim permanecerá nesta terça-feira. O rublo mergulhou 30% frente ao dólar, e o BC dobrou a taxa de juros, na tentativa de estancar a fuga de moeda e a corrida aos bancos. “Neste momento, o BC está encurralado”, explica Miriam Leitão em conversa com Renata Lo Prete neste episódio. Comentarista da Globo, apresentadora da GloboNews, colunista do jornal O Globo e da rádio CBN, ela detalha como, mesmo com a provável ajuda da China, a Rússia não conseguirá impedir que seu sistema financeiro tombe diante da ação coordenada dos Estados Unidos e de seus aliados, especialmente na Europa. "A Rússia está exposta porque os países entraram em acordo para atacá-la ao mesmo tempo". Miriam também fala dos efeitos colaterais, que serão sentidos inclusive no Brasil.

Carnaval e pandemia: há um século e hoje

From O Assunto

Em 2021, uma segunda onda feroz, quando a vacinação contra a Covid ainda engatinhava, impediu qualquer folia. Neste ano, a variante ômicron cuidou de adiar novamente a retomada plena da festa. Mas houve uma vez, muito tempo atrás, em que foi possível sair de uma tragédia sanitária e social direto para a celebração da vida. Uma história -ou “coleta de histórias”, como ele prefere- trazida pelo jornalista David Butter no recém-lançado livro “De Sonho e de Desgraça: o Carnaval Carioca de 1919”. Até onde dá para separar mito de realidade nessa matéria, ainda mais a tamanha distância no tempo, David concorda: aquele foi, sim, um Carnaval de extravasamento e superação no Rio de Janeiro. “Uma reunião na rua de sobreviventes” da gripe espanhola, que em meados de 2018 contaminou mais da metade da população, matando, em registros sabidamente subestimados, 15 mil pessoas, numa cidade então habitada por menos de 1 milhão (hoje são cerca de 6,8 milhões). Na conversa com Renata Lo Prete, David explica de que maneiras a memória da doença superada se fez presente nas marchinhas e nas fantasias. E aponta inovações introduzidas naquele ano que chegaram até os dias atuais, como o Cordão da Bola Preta. Ao comparar o efeito catártico do Carnaval de 1919 às limitações que o coronavírus ainda impõe, ele nota que, agora, há uma “desigualdade no alívio”, por enquanto privilégio de quem “pode pagar ingresso” em eventos fechados. O episódio tem participação especial da apresentadora da GloboNews Maria Beltrão, lendo trechos de jornais e outros documentos da época.

Guerra na Ucrânia: aberta a caixa de Pandora

From O Assunto

Depois de meses estacionando tropas na fronteira, a Rússia fez o que os Estados Unidos repetidamente disseram que ela faria. Uma invasão em ampla escala do território ucraniano, do tipo que a Europa não via desde o fim da 2ª Guerra Mundial, há quase 8 décadas. Em conversa com Renata Lo Prete neste episódio, o professor de Relações Internacionais Oliver Stuenkel explica que o ataque em curso marca o fim do sistema unipolar que vigorou no mundo desde a dissolução da União Soviética, no início dos anos 90. A despeito das palavras duras e de novas sanções econômicas, os americanos e seus aliados da Otan nada farão pela Ucrânia do ponto de vista militar. “A não ser, mais adiante, armar a resistência”, diz Stuenkel, lembrando que os EUA seguiram essa trilha no Afeganistão, na época da ocupação soviética, e mais tarde colheram resultado amargo. O professor chama a atenção para a retórica “pré-2ª Guerra” de Putin, que rasgou o princípio fundador da estabilidade no continente: respeito às fronteiras. Isso abre uma “caixa de Pandora” da qual sairá, além de uma nova onda de refugiados, muita instabilidade global.

Ucrânia invadida: as sanções contra a Rússia

From O Assunto

Enquanto a Rússia avança sobre o leste da Ucrânia, a comunidade internacional vai anunciando represálias econômicas. “Elas são um tipo de pressão, sem caráter bélico”, resume Fernanda Magnotta, pesquisadora do Centro Brasileiro de Relações Internacionais. Neste episódio, a professora começa por resgatar exemplos históricos do uso desse instrumento de dissuasão, destacando diferentes medidas impostas pelos Estados Unidos contra Cuba, Iraque e Irã, além da própria Rússia, quando esta anexou a Crimeia, em 2014. Se naquela ocasião Vladimir Putin conseguiu se virar sem maiores concessões, agora isso é ainda mais provável, explica Fernanda, pelo menos no curto prazo, porque o governo russo vem aumentando sua poupança em ouro e hoje tem patamar confortável de reservas internacionais. Providências que lhe “dão fôlego” caso tenha que socorrer bancos oficiais, integrantes da elite econômica e parlamentares atingidos pelas sanções. Na conversa com Renata Lo Prete, Fernanda avalia o alcance desses bloqueios financeiros e comerciais, apontando um paradoxo: quanto mais amplos, maior a chance de atingirem seu objetivo coercitivo; por outro lado, maior a probabilidade de um efeito bumerangue, com perdas não apenas para a Rússia. Esse “movimento em cadeia” tende a atingir, de imediato, os preços da energia e dos alimentos em escala global, com “mais pressão inflacionária”.

Militares e urnas: que confusão é essa?

From O Assunto

Em nova ofensiva contra o sistema de votação que o levou à Presidência da República, Jair Bolsonaro distorceu informações ouvidas de um general indicado pelo governo para uma comissão de transparência criada pelo Tribunal Superior Eleitoral. Na esteira da tentativa de golpe no 7 de Setembro, o TSE fez, além desse, um outro movimento para se aproximar dos militares: convidou o ex-ministro da Defesa Fernando Azevedo e Silva para assumir a direção administrativa da corte, oferta da qual ele acabou declinando, por motivos ainda não completamente esclarecidos. Em conversa com Renata Lo Prete, o jornalista Bernardo Mello Franco analisa a sucessão de eventos que contribuiu para dar às Forças Armadas um protagonismo no processo eleitoral brasileiro incompatível com o regime democrático. Colunista do jornal O Globo e comentarista da rádio CBN, ele lembra que o papel delas nessa matéria é essencialmente de apoio logístico, não lhes cabendo coordenar nem fiscalizar nada. Até porque, completa Bernardo, “os militares não são observadores desinteressados”, menos ainda neste governo, que lhes garantiu cargos em abundância e uma série de demandas atendidas. Ele também avalia as condições para se desativar, agora, uma armadilha para a qual a Justiça Eleitoral involuntariamente contribuiu. Convencido de que, se perder, Bolsonaro tentará desrespeitar a vontade das urnas, Bernardo recorre à comparação com Donald Trump: “Lá o golpe não deu certo, as Forças Armadas não deixaram. E aqui, como seria?”

Putin avança sobre o leste da Ucrânia

From O Assunto

Dois movimentos do Kremlin, nesta segunda-feira, colocaram em novo patamar uma crise que tem repercussões mundiais. Primeiro, o reconhecimento da independência de duas regiões separatistas no território ucraniano: Donetsk e Luhansk. Horas depois, o anúncio de que elas receberão tropas russas, em missão de “pacificação”. Com isso, Vladimir Putin “mexeu completamente no tabuleiro” de um jogo que vinha se desenrolando há meses na base da troca de ameaças entre Moscou e Washington, em meio a tentativas de mediação de líderes europeus. É o que explica, na conversa com Renata Lo Prete, o comentarista da TV Globo em Nova York Guga Chacra. Ao analisar o discurso feito por Putin, o jornalista observa que não se trata mais de exigir que a Ucrânia permaneça fora da Otan, mas de algo muito maior: questionar a própria existência do país como tal, advogando implicitamente a restauração geral do mapa que existia antes da dissolução da União Soviética, no início da década de 90. A partir de agora, analisa, o diálogo entre Putin e Joe Biden fica cada vez mais “complicado e improvável”. Para Guga, os próximos passos do governo de Volodymyr Zelensky serão determinantes para o desenrolar do conflito. Se a Ucrânia revidar, “poderemos caminhar para uma guerra aberta”.

Os 50 anos do 'Clube da Esquina'

From O Assunto

Foi um lugar -o encontro das ruas Divinópolis e Paraisópolis, em Belo Horizonte. E também um movimento que reuniu talentos excepcionais, como os irmãos Lô e Marcio Borges, Ronaldo Bastos e Fernando Brandt, guiados “pela inquietação e pela genialidade” de sua figura maior, Milton Nascimento. Quem relembra é o jornalista e antropólogo Paulo Thiago de Mello, autor de um livro sobre o Clube da Esquina e seu principal fruto: o disco homônimo lançado em março de 1972, divisor de águas na história da música brasileira. Um álbum duplo (dos primeiros a sair no país) de sonoridade sofisticada e caráter sinfônico, no qual se mesclam influências que vão das raízes mineiras aos Beatles. Na conversa com Renata Lo Prete, Paulo Thiago resgata o contexto histórico em que vieram à luz canções como “Cais”, “Trem Azul”, “Um Gosto de Sol” e “Nada Será Como Antes”. Elas refletem “a angústia e a asfixia” da pior fase da ditadura militar. Sinal disso, diz ele, é a presença de estrada em quase todas as letras, como um “portal para um universo que está no interior, e que só quem bota a mochila nas costas poderá encontrar". Chamado a comparar “Clube da Esquina” a outros discos seminais que saíram naquele ano (como “Acabou Chorare”, dos Novos Baianos), Paulo Thiago afirma que Milton e seus amigos levaram “o interior para a beira do mar". “A revolução deles foi musical”.

Celular roubado: muito além do aparelho

From O Assunto

Quem ainda não foi vítima tem pelo menos um familiar ou conhecido que já foi. Ver o telefone ser levado por ladrões, em abordagens cada vez mais violentas, vai se tornando cena recorrente nas cidades brasileiras. O choque do momento pode se desdobrar em meses de transtornos, porque ali está armazenada boa parte da vida da pessoa, inclusive o que mais interessa aos criminosos: dados financeiros. Repórter da Globo em São Paulo, César Galvão descreve neste episódio o modus operandi das quadrilhas e por que seus integrantes se expõem a risco em ações espetaculosas, que incluem quebrar vidros e “mergulhar” dentro de carros em pleno congestionamento: “eles querem o celular desbloqueado” para “ter acesso a senhas e contas bancárias”. César mostra ainda o despreparo de parte da polícia para lidar com um crime que atinge simultaneamente vários tipos de patrimônio. Renata Lo Prete conversa também com Thiago Ayub, especialista no desenvolvimento de ferramentas de segurança digital. Ele fala da responsabilidade das empresas fabricantes e recomenda “pensar na proteção do celular assim como pensamos na proteção da nossa casa”, tamanha a importância das informações que ele carrega.

Desastres naturais: adaptação urgente

From O Assunto

O maior volume de chuva em 24 horas registrado em quase um século de medições na região serrana do Rio de Janeiro. A água deslocou imensos blocos de terra dos morros, transformou as ruas de Petrópolis em rios de lama e foi destruindo tudo pelo caminho, numa tragédia que, na madrugada de quinta-feira, já passava de uma centena de mortos. “Água acima de 2 metros. A sensação era a de estar sendo engolido”, descreve o André Coelho, repórter da GloboNews. Do Morro da Oficina, um dos pontos mais afetados, ele contou a Renata Lo Prete o que viu ao chegar à cidade. Natural da vizinha Teresópolis, André detalha a geografia local, explicando os fatores de vulnerabilidade: “Encosta muito grande de rochas, vegetação insuficiente e ocupação desordenada”, uma mistura que, somada à omissão do poder público, faz com que os episódios de devastação se repitam. Participa também o economista Sérgio Margulis. Um dos autores do estudo "Brasil 2040”, ele lista providências que os governos precisam tomar. A primeira, afirma, é “estar atento e levar muito a sério” os impactos das mudanças climáticas. Do ponto de vista de infraestrutura, “as soluções são conhecidas e, agora, têm que ser implementadas”, e as autoridades deveriam estar dispostas a “pagar qualquer coisa para não deixar acontecer de novo”.

Lula em hora de vento a favor

From O Assunto

A pouco mais de sete meses da eleição, a liderança nas pesquisas segue folgada e estável. Dentro do PT, diminui a resistência à escolha do ex-tucano Geraldo Alckmin para vice. Uma conjuntura a que agora se somam duas novidades: um manifesto em defesa da candidatura, assinado por apoiadores tanto históricos quanto recentes; e uma entrevista na qual o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, avalia que o mercado financeiro já digere bem a possibilidade de vitória de Lula. Neste episódio, Renata Lo Prete recebe Maria Cristina Fernandes, colunista do Valor Econômico e comentarista da Rádio CBN, para discutir esse quadro e o que pode alterá-lo. Na conversa, elas tratam também das dificuldades enfrentadas pelos nomes da chamada “terceira via” e do que esperar de Jair Bolsonaro na campanha: “Ele tentará reeditar o antipetismo, que foi a maior força eleitoral de 2018”. O problema é que há “outro fenômeno mais poderoso agora”, o antibolsonarismo.

Violência no campo: em alta e impune

From O Assunto

Em 2020, primeiro ano da pandemia e o último com dados consolidados disponíveis, o Brasil registrou mais de 1.500 conflitos de terra, recorde desde 1985. A Comissão Pastoral da Terra, ligada à Igreja Católica, aponta ainda aumento de 30% nos assassinatos derivados desses conflitos - crimes cuja investigação não raro dá em nada. “É uma impunidade recorrente”, afirma Carlos Lima, um dos coordenadores nacionais da CPT. Em entrevista a Renata Lo Prete, o historiador avalia de que modo as políticas do atual governo contribuem para disseminar, entre os agressores, a certeza de que “matar índio, quilombola e sem-terra” não resulta em condenação, menos ainda dos mandantes. A análise vem no momento em que ganha o noticiário um caso particularmente chocante: um menino de nove anos, filho de dirigente de sindicato de trabalhadores rurais, morto a tiros dentro de casa, diante da família, por homens encapuzados. O repórter Ricardo Novelino, do g1 em Pernambuco, recupera a história de Jônatas e explica o conflito em Barreiros, na Zona da Mata pernambucana.

Amazônia ilegal: modelo de subdesenvolvimento

From O Assunto

Dois anos e meio depois do evento que ficou conhecido como Dia do Fogo, quando criminosos se organizaram para incendiar centenas de hectares de floresta, uma área do sudoeste do Pará onde havia vegetação nativa hoje está tomada por extensa plantação de soja. “Eu consegui ver duas realidades”, conta Daniel Camargos, jornalista da organização Repórter Brasil, que esteve no local nos dois momentos. “A soja levou dinheiro, mas também violência, medo e morte”. Na conversa com Renata Lo Prete, ele narra a “expulsão” dos pequenos agricultores que, antes da destruição, seriam assentados perto da cidade de Novo Progresso (PA). Uma história, explica Daniel, de assédio para que arrendem ou vendam seus lotes, transformando-se em “laranjas da soja”. A despeito de investigações abertas pela Polícia Civil e pela PF, o que aconteceu no Dia do Fogo “entrou para a gaveta”, diz. Participa também do episódio Caetano Scannavino, coordenador da ONG Projeto Saúde & Alegria e integrante do Observatório do Clima. É ele que traz o contexto da “cultura da ilegalidade”, vigente em boa parte da região. “O que já era ruim agora está catastrófico”, afirma. O ambientalista explica por que deu errado: já foi desmatada uma área equivalente a duas Alemanhas e, no lugar, dois terços viraram pastagem de baixa produtividade. “É a insistência em um modelo de subdesenvolvimento”. E com consequências severas para o planeta: se fosse um país, o território que os mapas descrevem como Amazônia Legal seria um dos dez mais poluentes do mundo, tamanha sua emissão de gases do efeito estufa. “O agronegócio deveria ser o primeiro a se preocupar com as mudanças climáticas”, acrescenta Caetano. A solução, aponta, é investir no aumento da produtividade e em novas tecnologias da floresta. “Dá para tornar a Zona Franca de Manaus em um Vale do Silício da bioeconomia”.

Bolsonaro na Rússia em meio à crise militar

From O Assunto

O presidente brasileiro desembarca em Moscou no início da próxima semana para encontrar o russo Vladimir Putin. Na sequência, se reúne com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán, em um giro de três dias numa região que vive tensão extrema: a estimativa é de que 130 mil soldados russos estejam perto da fronteira da Ucrânia, sinalizando risco de invasão iminente. Neste episódio, apresentado por Natuza Nery, o historiador Felipe Loureiro explica como a intenção de Putin ao receber Bolsonaro é mostrar “que a Rússia não está isolada” na atual crise internacional. Coordenador do curso de Relações Internacionais da USP e do Observatório da Democracia no Mundo, Loureiro avalia os significados do encontro de Bolsonaro com Putin e Orbán, dois líderes autoritários. O professor lembra como a Rússia é conhecida por interferir em eleições de outros países e alerta para o risco de a viagem servir como “laboratório” de métodos que possam causar disrupção na votação brasileira deste ano. Loureiro pontua ainda como Bolsonaro pode fazer aguar o esforço da diplomacia brasileira – que defende uma solução pacífica para o conflito entre russos e ucranianos. Segundo ele, uma eventual declaração desastrada de Bolsonaro prejudicaria a relação do Brasil com os EUA e ameaçaria até a prometida entrada do país na OCDE.

Agrotóxicos: o que muda com o PL do Veneno

From O Assunto

Desde 2015, o Brasil vem engordando a lista desses produtos autorizados para uso nas lavouras. Uma conta que disparou a partir de 2019 e no ano passado bateu recorde de liberações: mais de 560. Nesta quarta-feira, a Câmara aprovou o projeto de lei que facilita ainda mais a liberação. Um material extenso, “quase um código”, que “não deixa muito espaço para futuras regulamentações”, explica Rafael Walendorff. Em conversa com Renata Lo Prete, o repórter do Valor Econômico resgata a tramitação do PL e detalha os argumentos de quem o defende (“mais celeridade e segurança para o setor produtivo”) e de quem o rejeita (“abre muitas brechas e aumenta as pressões” pelo registro de mais agrotóxicos). Ele também aponta quem sai ganhando: “O Ministério da Agricultura fica com mais poder”, afirma sobre um dos pontos mais controversos do PL, que tira da alçada da Anvisa e do Ibama a decisão final sobre produtos potencialmente danosos à saúde humana e ao meio ambiente. “Vai ser um desastre”, prevê Luiz Claudio Meirelles, pesquisador da Escola de Saúde Pública da FioCruz e ex-gerente de toxicologia da agência. O agrônomo alerta para os riscos de permitir que mais defensivos agrícolas cheguem à mesa dos brasileiros. E lembra que o glifosato, embora declarado cancerígeno em 2015, ainda é o agrotóxico mais usado do país. Luiz Claudio aborda também o problema do monitoramento: “caro, demorado e não garante proteção”. Para ele, o caminho é justamente o contrário do previsto na nova lei: liberar cada vez menos.

Alfabetização: o pior dos retrocessos

From O Assunto

No início do ano letivo, aparecem as consequências de quase dois anos de apagão no ensino presencial regular. O quadro inclui evasão elevada, déficit de vagas na rede pública e a conclusão dramática de um levantamento feito a partir de dados da Pnad Contínua (IBGE): quase 41% dos alunos de 6 e 7 anos não sabem ler nem escrever, um salto de 66% na comparação com 2019. “Antes da pandemia, já era um desafio garantir que todos aprendessem”, diz a pedagoga Anna Helena Altenfelder. “Agora, piorou”. Na conversa com Renata Lo Prete, ela explica por que o ensino remoto funciona particularmente mal para essa faixa etária, além de ampliar as desigualdades. E defende que a criação de vagas é tarefa para ontem: cada dia sem aula é “um dia a mais de direito negado e um dia a menos de aprendizado”. Participa também do episódio a educadora Sônia Madi, que discorre sobre o comprometimento do futuro do aluno e da sociedade quando falta a base (leitura e escrita). Para ela, é o sistema que precisa se adequar a essa criança carente de ajuda para aprender, e não o contrário: “Não adianta apenas saber em que pé ela está. Precisa saber como faz para ela avançar”.

Imposto sobre combustível: o que pode mudar

From O Assunto

Já apareceu posto com o litro de gasolina acima de R$ 8. Em vários estados, ele está custando, em média, mais de R$ 7. Desde o início do ano passado, a alta acumulada é de 77%, uma das mais sentidas pelo consumidor, com efeitos que se espalham por toda a economia. Se antes as autoridades já temiam o custo político desse processo, que dirá agora, a oito meses da eleição. Por isso, sob pressão do presidente Jair Bolsonaro, o Congresso está coalhado de projetos que prometem colocar freio aos aumentos. Quem explica cada um deles neste episódio é a jornalista da GloboNews Bianca Lima, que resume assim: “Sobram propostas, falta consenso”. Ela se refere, por exemplo, à resistência dos governadores a perder arrecadação de ICMS (responsável por 70% das receitas dos estados). Ou da equipe econômica diante da possibilidade de se criar um fundo, com recursos da União, para amortecer as oscilações do preço do petróleo no mercado internacional. Com o barril superando os US$ 90 e o real se desvalorizando, o problema não será resolvido pela via dos tributos, explica o repórter Alvaro Gribel, do jornal O Globo. “Petróleo e câmbio: são esses os dois fatores”, diz. Na conversa com Renata Lo Prete, ele faz o histórico de como diferentes governos lidaram com a Petrobras e os preços de combustíveis, desde o período Lula. E examina a viabilidade das propostas dos pré-candidatos à Presidência nessa matéria.

Moradia primeiro: um serviço essencial

From O Assunto

Nas grandes cidades brasileiras, é visível, quando não gritante, que há mais gente vivendo nas ruas. Em São Paulo, censo recém-divulgado pela prefeitura detectou aumento de 31% entre 2019 e o ano passado, mas nem esse percentual dá conta da realidade, pois ainda existe muita subnotificação. Um quadro em que se misturam desemprego elevado, renda em queda e inflação acentuada do aluguel. E que provoca também mudança de perfil dos desalojados: “Agora você encontra mais famílias e crianças”, alerta Samuel Rodrigues, coordenador, em Minas Gerais, do Movimento Nacional de Pessoas em Situação de Rua. Ele, que já viveu 13 anos assim, conta como a ausência de políticas públicas está impondo a milhares de pessoas a necessidade de revirar lixo em busca de alimento. “O grito pela comida, neste momento, é o mais forte”. Na conversa com Renata Lo Prete, Samuel reforça a importância de pensar em moradia “não apenas como mercadoria, mas como serviço”, dentro da ideia de “housing first”, que gerou experiências exitosas em diversos países. Também entrevistado no episódio, o pesquisador André Luiz Freitas reforça que moradia é “o eixo condutor de acesso a outros direitos”, como saúde, assistência social e cultura. Professor e coordenador do programa Polos de Cidadania, da UFMG, ele explica como a carência de dados oficiais e confiáveis sobre a população de rua descumpre responsabilidades previstas na Constituição Federal e acaba resultando em “políticas de morte”.

A Funai contra os indígenas isolados

From O Assunto

Somente dentro dos limites da Amazônia Legal, são mais de 100 povos que optam por viver reclusos na floresta, muitas vezes pela lembrança de um passado sangrento. “Para eles, a proteção da Funai é vital. Literalmente vital”, resume Beto Marubo, integrante da Univaja, organização que luta pelos direitos desses grupos no Vale do Javari (AM). No entanto, o órgão federal incumbido da tarefa está na berlinda por fazer o contrário: deixá-los à mercê de desmatadores e grileiros. No comando, “um presidente da Funai que não gosta da Funai e que é contra a Funai”, diz Marubo, referindo-se ao delegado da PF Marcelo Xavier da Silva, que ocupa o posto desde julho de 2019. O capítulo mais recente do desmonte é a dificuldade para renovar portarias que restringem o acesso a áreas habitadas por esses povos - e até hoje não demarcadas. “Parece que existe intenção de ganhar tempo até que se encontre ambiente para uma decisão que agrade” os invasores, diz a Renata Lo Prete a advogada Carolina Santana, assessora jurídica do Observatório dos Direitos Humanos dos Povos Indígenas Isolados. Morador de uma das regiões com maior presença deles, Beto alerta para a contradição de abandonar justamente quem mais precisa do zelo do Estado: “Além de covarde, é criminoso”.

Juro básico de volta aos 2 dígitos

From O Assunto

Em menos de 12 meses, a Selic saltou de seu piso histórico (2% ao ano, em março de 2021) para os 10,75% anunciados nesta quarta-feira, num acréscimo de 1,5 ponto percentual. E com nova alta já contratada para a próxima reunião do Copom. O movimento tende a frear ainda mais uma atividade econômica já vagarosa, mas, na avaliação Sergio Lamucci, editor-executivo do Valor Econômico, não restava alternativa: “O Banco Central está sozinho” na causa de conter a inflação. Ele analisa como, em um cenário de câmbio desvalorizado, incerteza eleitoral e risco fiscal, o BC lança mão da política monetária para tentar reduzir à metade o IPCA, o que mesmo assim manteria a inflação acima do centro da meta para 2022 (3,5%). Como dano colateral, além da redução da atividade, ele prevê a retomada da trajetória de crescimento da dívida pública. Neste episódio, Renata Lo Prete conversa também com o economista Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria, sobre o fim da era de juros muito baixos no mundo, que terá como próximo e importante capítulo o início, em março, de um ciclo de aperto monetário nos EUA. “O que se espera é a redução do fluxo de capitais para países emergentes, como o Brasil, e um dólar ainda mais forte”.

O Brasil que lincha: o caso Moïse

From O Assunto

Agredido com socos, chutes e pauladas porque, de acordo com depoimentos da família, reivindicava dois dias pendentes de remuneração no quiosque onde trabalhava, na orla da Barra da Tijuca. Moïse Kabamgabe, 25 anos, encontrou a morte no país que sua mãe escolheu para criar os filhos, de modo a afastá-los da instabilidade violenta do Congo. Um caso no qual racismo e xenofobia se misturam a uma barbaridade que tem raízes profundas em nossa história: os “justiçamentos de rua”. Estudioso do tema, sobre o qual escreveu um livro, o sociólogo José de Souza Martins, professor emérito da USP, identifica no assassinato brutal de Moïse “um novo tipo de linchamento dentro de uma cultura de linchamentos”. Novo porque associado não a acusações de furto ou estupro, mais recorrentes, e sim a relações de trabalho, que vêm sofrendo um visível processo de degradação. Na conversa com Renata Lo Prete, Martins reflete sobre o “comportamento de multidão” dos linchadores. “Na multidão, o responsável pelo crime é sempre o outro”, observa. E portanto, sob a ótica dos agressores, não é ninguém. Ele lembra que linchamentos são também uma expressão de medo -do novo e do diferente. E que nossa sociedade é, com o estímulo do governo, cada vez mais “uma sociedade do medo”. Participa ainda do episódio Luana Alves, repórter da TV Globo no Rio, que conversou com a mãe e os irmãos de Moïse: “Uma família que fugiu de uma realidade difícil em sua terra natal e, mesmo assim, permaneceu unida e afetuosa”.

Page 51 of 83 (1658 episodes from Brazil)

🇧🇷 About Brazil Episodes

Explore the diverse voices and perspectives from podcast creators in Brazil. Each episode offers unique insights into the culture, language, and stories from this region.