🇧🇷 Brazil Episodes

1659 episodes from Brazil

Vacina: direito das crianças

From O Assunto

Nicolas Rodrigues dos Santos, de 9 anos, começou a se sentir mal ainda no início de dezembro. Depois de um vai-e-volta nos hospitais de Astorga, interior do Paraná, foi internado com apendicite e veio a confirmação de Covid-19. Um dia depois do Natal – para qual sua avó já comprara uma bicicleta para presenteá-lo – ele se tornou uma das mais de 500 crianças mortas durante a pandemia no Brasil. “Foi por causa da Covid que ele faleceu”, lamenta Marta Cristina Machado, avó do garoto. “Estava esperando ter a vacina para ele tomar, mas não deu tempo”. Embora a Anvisa já tenha anunciado a decisão de liberar doses da Pfizer para 35 milhões de crianças entre 5 e 11 anos (em uma versão com dosagem diferente da usada em adultos) em 16 de dezembro, o Ministério da Saúde ainda não deu o aval para a imunização em massa. Neste episódio, em entrevista a Natuza Nery, o médico e advogado Daniel Dourado explica a diferença nas atribuições da Anvisa - quem “reconhece a vacina como válida para ser usada no Brasil” - e do Ministério da Saúde - quem “define política pública, caso da vacinação em si no SUS, na esfera federal”. Ele analisa o que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente sobre o dever do Estado brasileiro de garantir a imunização e a obrigação de pais e responsáveis em levar menores de idade para a vacinação. O pesquisador do Centro de Pesquisa em Direito Sanitário da USP ainda avalia o passo a passo das decisões tomadas pela pasta comandada por Marcelo Queiroga: desde a lentidão no pedido de novas doses para a Pfizer até a consulta pública com “perguntas mal elaboradas e amostragem que não temos como considerar”. “É uma maneira de fazer aceno para sua base antivacina e ao mesmo tempo ganhar tempo”, resume.

Covid a bordo: cruzeiros suspensos no país

From O Assunto

Depois de quase dois anos, foram liberadas as primeiras viagens de cruzeiro no Brasil. Milhares de turistas embarcaram atrás de dias de descanso e lazer, mas acabaram presos dentro de cabines. Um deles é o empresário Maxwell Rodrigues, apresentador do programa Porto 360 Graus, da TV Tribuna, afiliada da Globo em Santos. Em entrevista a Natuza Nery, ele relata as falhas de comunicação a bordo do navio Costa Diadema: desde a falta de contato após a realização do teste de Covid até o “silêncio ensurdecedor” sobre as informações de casos confirmados entre tripulação e passageiros. Ele recorda também como, ao atracar na costa de Salvador, os turistas receberam a notícia de testes positivos de coronavírus no navio pela imprensa. “Depois do anúncio do lockdown, começou a correria em busca de comida”. Participa também deste episódio a pesquisadora em saúde Chrystina Barros, integrante do Grupo Técnico de Enfrentamento à Covid da UFRJ. É ela quem explica por que, mesmo no caso de as operadoras de turismo terem cumprido à risca os protocolos, não há como evitar novos casos dentro dos navios: “Não dá para conter, é uma realidade aumentada da sociedade”. E aponta que a ômicron e eventuais novas variantes tornam imprevisível o cenário para a volta dos cruzeiros – a partir da recomendação da Anvisa, a associação de empresas do setor interrompeu as atividades até dia 21 de janeiro.

Os 100 anos da Semana de Arte Moderna

From O Assunto

No palco principal do Teatro Municipal de São Paulo, em 13 de fevereiro de 1922, o escritor Graça Aranha abriu a Semana de Arte Moderna da seguinte forma: “Para muitos de vós, essa curiosa e sugestiva exposição que gloriosamente inauguramos hoje, é uma aglomeração de horrores”. Naqueles dias, artistas como Heitor Villas-Lobos, Victor Brecheret, Di Cavalcanti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Anita Malfatti – a quem os especialistas creditam o mérito de ser a “primeira realmente modernista” do país – apresentaram composições, peças, quadros e poemas que seriam um “catalizador das várias iniciativas e direções da implementação da arte moderna no Brasil”, como define Luiz Armando Bagolin, um dos curadores da exposição Era Uma Vez o Moderno, em São Paulo. Em entrevista a Natuza Nery, o professor e pesquisador do Instituto de Estudos Brasileiros da USP disseca os eventos históricos que culminaram no evento, cujo ”forte efeito de propaganda” foi fundamental para chamar a atenção ao movimento e impulsionar o modernismo no Brasil. Ele recorda como o Abaporu, mais célebre obra de Tarsila do Amaral, dá origem à antropofagia e como daí nasce o conflito que afastaria Mário de Andrade do núcleo duro do modernismo. “Mário foi o primeiro autor brasileiro a buscar entender antropologicamente o que é o ‘Brasil profundo’”, afirma. “Ele dizia que o Brasil não conhece o Brasil e que apenas assim se poderia conhecê-lo de verdade”. O desgaste entre o autor de Macunaíma com os demais modernistas, explica Bagolin, se intensifica sob o projeto ultranacionalista do Estado Novo, que “coopta o movimento” e mata aquilo que ele descreve como “dimensão utópica do modernismo”. Nos últimos 100 anos, sua herança passa pela construção da capital Brasília, assinada pelo mais célebre arquiteto modernista, Oscar Niemeyer, e pelo tropicalismo, que reforma a cultura nacional na música, cinema e teatro entre as décadas 1960 e 1970. Bagolin e Natuza resgatam ainda o balanço de Mario de Andrade sobre o modernismo. “Não adianta uma arte moderna em uma sociedade desigual”, cita o pesquisador. “E 100 anos depois, vivemos a mesma coisa: somos modernos, mas ainda temos irmãos que não conseguem comer”.

REPRISE: Em busca das árvores gigantes da Amazônia

From O Assunto

Elas se erguem muito acima da média do dossel da floresta. Como conseguem crescer tanto e não quebrar é algo que sempre intrigou estudiosos. Em outubro, quatro guias e quatro engenheiros florestais partiram da pequena Cupixi, na região central do Estado do Amapá, e se embrenharam durante três dias no rio e na mata com o objetivo de chegar à segunda mais alta já identificada pelos radares do Inpe: um angelim vermelho de 85 metros, marca que o faz superar um prédio de 30 andares ou duas vezes a estátua do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. Concluída a expedição – na qual equipe de cientistas captou áudios especialmente para o episódio do podcast que O Assunto reprisa neste 31 de dezembro – o professor Diego Armando Silva conversou com Renata Lo Prete a respeito da importância do projeto que coordena. "As árvores gigantes são as mães da floresta", diz. “Além de resistir ao vento, à luz e às tempestades, elas precisam sustentar o próprio peso". A observação de perto, o inventário e a coleta de informações nos ensinam não apenas sobre elas, mas sobre “a estrutura da floresta”. E ele não tem dúvida: ainda há muitas gigantes por mapear e conhecer na Amazônia.

REPRISE: Brasileiros sem documento - os verdadeiros invisíveis

From O Assunto

Segundo o último dado oficial disponível, são cerca de 3 milhões de pessoas que, como Maria Helena Ferreira da Silva, chegam à vida adulta (e eventualmente à idade avançada) sem certidão de nascimento: um problema nacional que foi tema da redação do Enem neste ano e do episódio que O Assunto reprisa neste 30 de dezembro. No caso da agricultora de 70 anos, que vive no interior do Paraná, a carência virou barreira na hora de se vacinar contra a Covid-19. No posto, recomendaram-lhe que se conformasse em ficar sem o imunizante, “porque o governo nem sabia que eu existia”. Ela só veio a receber a primeira dose meses depois, por ação da Defensoria Pública, e agora está perto de conseguir a tão sonhada certidão de nascimento. “A gente fica envergonhado, né?” O relato feito por Maria Helena ao podcast introduziu a conversa entre Renata Lo Prete com Fernanda da Escóssia, autora do livro "Invisíveis - Uma Etnografia sobre Brasileiros sem Documento", fruto da tese de doutorado da jornalista na Fundação Getúlio Vargas. Ela explica o papel fundador desse registro e o efeito bola de neve que a ausência dele provoca: vai ficando mais difícil obter outros documentos e, com o passar dos anos, limitações muitos concretas se apresentam, notadamente no acesso aos serviços públicos de educação e saúde. Editora na revista Piauí, com longas passagens pelos jornais O Globo e Folha de S. Paulo, Fernanda se interessa há quase duas décadas por um fenômeno que descreve como “transversal”, porque ligado a múltiplos fatores, como miséria e desestruturação familiar. Em sua pesquisa e nesta entrevista, ela conta histórias de pessoas que conheceu no momento em que buscavam o registro de nascimento e reencontrou tempos depois -- quando haviam resgatado direitos, cidadania e às vezes o próprio "fio da vida".

REPRISE: Fogo na Cinemateca - memória destruída

From O Assunto

“Todo mundo sabia que ia acontecer. E aconteceu", diz o diretor Cacá Diegues sobre o processo crônico de negligência e asfixia de recursos que culminou no incêndio do galpão na Vila Leopoldina, em São Paulo, em 29 de julho deste ano. O fogo destruiu cerca de um milhão de documentos que registravam décadas da produção audiovisual brasileira, entre trabalhos de artistas de renome e de anônimos, e que contavam a história do país. O descaso vem de longe, mas o desejo de extermínio é recente, diferencia Cacá, integrante da Academia Brasileira de Letras “Não é que o atual governo não se interesse pelo cinema. Ele é contra o cinema, contra a cultura e não quer que o Brasil exista”. Na conversa com Renata Lo Prete, que O Assunto reprisa neste 29 de dezembro, o diretor reflete sobre o significado de seu “Bye Bye Brasil”. O filme, que no ano 1 da pandemia completou quatro décadas, aborda temas para lá de atuais, como destruição ambiental e aniquilação de povos indígenas. A despeito das dificuldades, Cacá continua a criar e mantém a esperança de que ninguém conseguirá matar o cinema brasileiro. E afirma que sem a arte “você corta a possibilidade de o país se organizar e ser alguma coisa".

REPRISE: Simone Biles - saúde mental primeiro

From O Assunto

A maior ginasta de todos os tempos chegou aos Jogos Olímpicos sob pressão para ampliar sua lista de medalhas. Já em Tóquio, a atleta revelou que passava por uma espécie de bloqueio ao saltar e desistiu de quatro finais olímpicas para priorizar o cuidado com sua saúde mental – e abriu um debate que rompeu as fronteiras do esporte. No episódio que O Assunto reprisa neste 28 de dezembro, Renata Lo Prete recebe dois convidados: o ex-repórter da Globo Marcos Uchoa e a doutora em psicologia pela USP Vera Iaconelli. “O que ela faz ninguém mais é capaz de fazer”, resume Uchoa sobre o fenômeno Biles. Ele, que cobre Olimpíadas há mais de três décadas, descreve o estresse a que são submetidos desde muito cedo os atletas de alta performance, especialmente na ginástica. “Há uma deformação da infância e da adolescência", diz. Vera, que também é diretora do Instituto Gerar de Psicanálise, analisa o caso da ginasta sob o aspecto da “relação com os nossos desejos". Ela questiona a caracterização do gesto da atleta como “um problema”, e pondera: “Saúde mental é poder dizer não a certas coisas que não são aceitáveis. E não tentar loucamente se adaptar a elas".

REPRISE: Militares de novo no poder: as origens

From O Assunto

Primeiro, eles saíram dos quartéis para o front internacional em missões de grande visibilidade, notadamente a do Haiti. Depois, foram chamados a atuar em segurança pública interna, numa escalada de operações que culminou com a intervenção de 2018 no Rio de Janeiro. Logo depois da eleição de Jair Bolsonaro, o então comandante do Exército, Eduardo Villas-Bôas, qualificou como “volta à normalidade” a atuação de quadros das Forças Armadas em áreas de natureza civil da administração federal -hoje em patamar sem precedentes. “Este é um governo de militares", afirma Natália Viana, autora do livro “Dano Colateral”, um dos mais importantes lançamentos de 2021, tema do episódio que O Assunto reprisa neste 27 de dezembro. No momento em que eles disputam terreno com políticos do Centrão -e recebem a conta do desempenho desastroso na pandemia-, a jornalista resgata o capítulo inaugural dessa história. Mostra, com apuração minuciosa, a opacidade de informações e a impunidade de atos cometidos, em especial no Rio. E constata que “a democracia já está rota” quando um general (Braga Netto, ministro da Defesa) se sente à vontade para ameaçar ninguém menos do que o presidente da Câmara com a ruptura do calendário eleitoral. “Eles entraram na política e não pretendem se retirar”.

REPRISE: O vale-tudo das “narrativas”

From O Assunto

O dicionário diz que se trata da “exposição de uma série de acontecimentos mais ou menos encadeados”. Na política, porém, a palavra se perdeu numa epidemia de usos equivocados, quase sempre voltados ao diversionismo e à tentativa de ocultar verdades inconvenientes. No episódio que O Assunto reprisa neste 24 de dezembro, o apelo incessante à carta da “narrativa”, notadamente pelos bolsonaristas na CPI da Covid, compõe a trilha sonora da conversa de Renata Lo Prete com o jornalista Eugênio Bucci, professor da Universidade de São Paulo e autor do livro “A Superindústria do Imaginário”. Eugênio resgata o sentido original do termo -em diferentes mitologias, na literatura e no jornalismo. Passa por transformações ligadas à lógica dos mercados e chega às fake news, um território onde “a verdade não pesa”. Para ele, abster-se de responder pelos fatos é o "objetivo final dessa discurseira vazia e histérica".

O Orçamento capturado de 2022

From O Assunto

A peça aprovada pelos parlamentares evidencia o que os especialistas vinham apontando: menos de metade do “espaço” de R$ 113 bilhões criado com a aprovação da PEC dos Precatórios irá para o novo programa social do governo. “Não houve, de fato, preocupação em reforçar o Auxílio Brasil”, observa Adriana Fernandes, repórter especial e colunista do jornal O Estado de S. Paulo. Em compensação houve, ela explica, ampla e bem-sucedida preocupação em contemplar os interesses do presidente Jair Bolsonaro (como R$ 1,7 bilhão para dar reajuste a policiais federais, deflagrando a ira de outras categorias do funcionalismo) e de deputados e senadores (caso dos R$ 16,5 bilhões para emendas do relator, que seguirão quase tão secretas quanto antes). Na conversa com Renata Lo Prete, Adriana também descreve as idas e vindas que resultaram num Fundo Eleitoral de quase R$ 5 bilhões, a baixa no volume de recursos para investimento e a primazia dada à Defesa sobre pastas como Saúde e Educação. A jornalista destaca ainda o caráter simbólico das ausências de Bolsonaro e do ministro da Economia, Paulo Guedes, de Brasília quando da aprovação: “Quem realmente está mandando no Orçamento é o Congresso”.

Lula: chapa, pesquisas e mais sobre 2022

From O Assunto

O ano termina com o petista na liderança isolada das intenções de voto para a Presidência, enquanto negocia uma composição que, até recentemente, poucos sequer imaginariam, com o ex-governador Geraldo Alckmin, recém-saído do PSDB. Se concretizada, será “a aliança do establishment político da Nova República”, diz o cientista político Miguel Lago, que leciona na Universidade Columbia, em Nova York, e na Sciences Po, em Paris. Daí vem sua força e, segundo ele, também seu calcanhar de Aquiles, que Jair Bolsonaro tentará explorar. Na conversa com Renata Lo Prete, Lago analisa movimentos e falas de Lula. Reconhece que nenhum outro candidato desperta tanto no eleitorado pobre, amplamente majoritário no Brasil, a lembrança de dias melhores, mas pondera que o país mudou bastante desde os dois mandatos do ex-presidente. Ele cita dois exemplos: o trabalho formal encolheu para dar lugar ao chamado “precariado”, e a religião ganhou peso no debate e nas definições de perfil. A dicotomia, afirma o professor, agora se dá entre “batalhadores” e “encostados”, estes últimos bem representados, segundo ele, pela família Bolsonaro. “São milionários e nunca fizeram nada".

Chile: a esquerda no poder

From O Assunto

Ao final do primeiro turno, muitos previam disputa acirrada e até mesmo favoritismo do candidato da extrema-direita. Porém, encerrada a apuração da etapa final, o ex-líder estudantil Gabriel Boric emergiu vencedor com mais de dez pontos percentuais de vantagem sobre José Antonio Kast. “Era preciso atrair o eleitor do centro. E Boric soube fazer isso melhor do que Kast”, afirma Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da FGV. Na conversa com Renata Lo Prete, ele analisa a sucessão de eventos inaugurada no país com os protestos de 2011, até chegar à Assembleia Constituinte e, agora, à eleição do primeiro presidente que não saiu de nenhuma das duas coalizões que se alternaram no poder desde o fim da ditadura do general Pinochet, em 1990. “É preciso ter cuidado com as expectativas”, pondera Stuenkel. O jovem eleito (35 anos) terá que lidar não apenas com um Congresso dividido, mas com reticências em sua própria aliança. “O Partido Comunista está distante”, diz. Mais importante: num cenário de inflação e fim dos auxílios da pandemia, precisará enfrentar a desigualdade econômica e social que inflamou as ruas. Sem desconsiderar o histórico recente de resultados eleitorais da América Latina, o professor matiza: “Boric é uma outra esquerda, mais parecida com partidos progressistas da Europa. Um fenômeno típico chileno, difícil de imaginar em países como Paraguai, México ou o próprio Brasil”.

Pandemia: o que esperar do ano 3

From O Assunto

Ao fim de 2020, o trauma de meses dificílimos cedeu lugar à euforia com o início da vacinação. De fato, onde ela avançou mais, o quadro melhorou bastante. Mas a desigualdade na aplicação contrapõe países com mais de 80% da população completamente imunizada a outros, quase sempre pobres, nos quais o percentual não chega a 10%. “Mais do que um imperativo ético e moral, o acesso equitativo às vacinas ainda é a melhor resposta à pandemia”, afirma Jarbas Barbosa, vice-diretor da Opas, braço da OMS nas Américas. Isso porque somente o controle da transmissão do vírus poderá impedir o surgimento sem fim de variantes de preocupação. A ômicron, mais recente delas, embaralhou todos os prognósticos para 2022, ao combinar manifestações aparentemente menos graves da doença à maior transmissibilidade vista até aqui. “Mesmo países com sistemas de saúde fortes poderão enfrentar problemas”. Em entrevista a Renata Lo Prete, o médico brasileiro analisa estudos preliminares sobre a ômicron e a necessidade das doses de reforço. E lança um olhar esperançoso sobre o futuro: “Se tivermos vigilância genômica funcionando, mantivermos a adesão da população às recomendações de saúde pública e avanço da vacinação, acredito que possamos chegar ao final de 2022 com perspectiva de controle”.

Gripe fora de época se espalha no Brasil

From O Assunto

Os primeiros sinais surgiram na UPA da Rocinha, onde explodiu o número de pacientes com queixas respiratórias. Alguns dos sintomas se assemelhavam aos da Covid, mas testes deram outra resposta: influenza. E uma variante diferente, a Darwin, que predominou no hemisfério norte no início de 2021 e agora, atipicamente longe do inverno, ganha terreno por aqui. Neste episódio, Renata Lo Prete conversa com Marcelo Gomes, coordenador do Boletim Infogripe, da Fiocruz. O pesquisador em saúde pública explica a piora do quadro, notadamente no Rio de Janeiro e no Espírito Santo, onde a doença já adquiriu caráter epidêmico, com espalhamento dos casos. Cidades como São Paulo, Salvador, Belém e Manaus também enfrentam surtos, com sobrecarga de seus hospitais e postos. “Infelizmente, a perspectiva para as próximas semanas é de mais ocorrências”, diz Marcelo. Ele cita entre os motivos a “queda na cobertura vacinal deste ano” no Brasil. Ainda que o imunizante disponível não proteja contra a variante H3N2, ele não tem dúvida em recomendar que especialmente os segmentos mais vulneráveis da população tomem a vacina. Para prevenção, as recomendações são as mesmas dos últimos dois anos: usar máscaras de boa qualidade e sempre, preferir lugares abertos e evitar aglomerações.

Violência obstétrica: como se proteger

From O Assunto

O relato da influenciadora digital Shantal Verdelho sobre abusos sofridos durante o nascimento de sua filha em um hospital privado paulistano evidenciou um drama silenciado por longo tempo e que atinge uma legião de mulheres no país. Um tipo de violência que pode ocorrer no atendimento pré-natal, no parto ou depois dele, e se manifestar em intervenções cirúrgicas (realizadas sem consentimento ou mesmo à revelia da paciente) e assédio moral (por meio de gritos e ofensas), explica a jornalista Giovanna Balogh, especialista em temas ligados à maternidade e à infância. “Os profissionais da saúde não querem cometer violência, mas reproduzem condutas que aprenderam, estão desatualizados ou são insensíveis ao fato de haver uma mulher atrás daquela vagina”. A ginecologista e obstetra Larissa de Freitas Flosi, do coletivo Nascer, enxerga o momento histórico em que o trabalho de parto saiu maciçamente do ambiente familiar, entre as décadas de 1950 e 1960, como uma espécie de marco zero desses casos. “Virou um evento médico”, que ocorre “no momento de maior vulnerabilidade física e emocional” da mulher e envolve traços da sociedade como machismo, racismo e preconceito de classe. A médica afirma que a assistência obstétrica precisa ser baseada em dois pilares: ciência e autonomia da mulher. Para a gestante, o mais importante é ter informação de qualidade. “É o melhor item do enxoval”.

O desmanche das decisões da Lava Jato

From O Assunto

Na largada, em março de 2014, a operação investigava lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A partir daí vieram as descobertas de malfeitos bilionários, relacionados sobretudo à Petrobras, e a prisão de representantes da elite empresarial e política. Numa sucessão espetacular de fases, a Lava Jato conquistou grande apoio popular, mas não sem danos colaterais. Excessos cometidos pelos investigadores passaram a ser questionados pelo Judiciário: hoje, nas cortes superiores, condenações em série são revertidas, e pilares da operação, derrubados. “A decisão do STF de deixar na vara de Curitiba apenas casos relativos à Petrobras foi um divisor de águas”, afirma Marco Aurélio de Carvalho, integrante do Grupo Prerrogativas. Assim como, no entender dele, a de remeter à Justiça Eleitoral casos de crimes comuns relacionados a caixa dois. Tudo isso, acredita Marco Aurélio, faz parte de um processo de depuração e restabelecimento de marcos institucionais, no qual ele inclui ainda a declaração de suspeição de Sergio Moro para julgar o ex-presidente Lula. Neste episódio, Renata Lo Prete recebe também Raquel Pimenta, professora de direito na FGV. Ela, que estuda corrupção e poder econômico, analisa erros e acertos no uso, pela Lava Jato, de instrumentos como delações premiadas e acordos de leniência.

Os evangélicos e seu espaço no Judiciário

From O Assunto

Logo no início do mandato, Jair Bolsonaro prometeu que levaria ao STF um nome “terrivelmente evangélico”. André Mendonça foi o segundo escolhido pelo presidente (depois de Nunes Marques), mas não corresponde exatamente ao perfil. “Ele é, na verdade, um conservador moderado”, define a socióloga Christina Vital da Cunha, “que inclusive já apoiou governos à esquerda”. Em entrevista a Renata Lo Prete, a professora da Universidade Federal Fluminense, também colaboradora do Instituto de Estudos da Religião, explica que o interesse de grupos religiosos pelo Judiciário é anterior ao atual governo e vai além dos evangélicos. Em sua origem está a dificuldade de fazer avançar, via Legislativo, determinados pontos da agenda conservadora. E a necessidade de se contrapor ao que consideram “ativismo do Judiciário”, sobretudo em pautas comportamentais. Christina recorda a entrevista que fez em 2014 com o então candidato à Presidência Pastor Everaldo (PSC), na qual ele reconhecia que o projeto era “trocar a cabeça”, com a finalidade de indicar ministros afinados com os interesses de seu grupo. O alinhamento de muitas lideranças evangélicas com o bolsonarismo se deu ainda no discurso anticorrupção que prevaleceu nas eleições de 2018 -mesma pauta que “agora motiva o rompimento” de parte do segmento com o presidente. Essa é uma das razões, acredita, pelas quais o eleitorado evangélico pode chegar a 2022 fragmentado entre a reeleição de Bolsonaro, a nostalgia dos tempos de prosperidade de Lula e o apelo lavajatista de Sergio Moro. Um racha que o presidente terá de enfrentar também diante da base parlamentar e ativista que empurrou Mendonça até a aprovação pelo Senado - onde a indicação ficou quatro meses parada e enfrentou expressiva resistência. “Se ele atuar conforme o interesse dos grupos que realmente o apoiaram, entrará em choque com Bolsonaro, inevitavelmente”.

Natal com fome: como ajudar quem precisa

From O Assunto

O ano 2 da pandemia agravou uma situação que já era a de milhões de brasileiros em 2020: insegurança alimentar. Ao longo de 2021, a demanda por doações cresceu 30%, enquanto o volume caiu 20%. Uma realidade que Renata Alves, uma das responsáveis pelas ações de enfrentamento à Covid na favela paulistana de Paraisópolis, define como “perturbadora”. Ela relata que a crise tem levado pessoas a buscar comida até em Unidades Básicas de Saúde. Para Daniel Souza, presidente do conselho da ONG Ação da Cidadania, o quadro resulta do “desmonte criminoso das políticas públicas” em anos recentes. Por maior que seja o imperativo da solidariedade, “é só por meio delas que poderemos sair novamente do mapa da fome”, afirma. A terceira entrevista de Renata Lo Prete é com Preto Zezé. O presidente da Central Única das Favelas mostra como o empobrecimento atinge parcelas da sociedade antes relativamente protegidas -resultando no aumento da população de rua e em mais de 20 milhões de brasileiros sem alimentação básica. Para responder a essa tragédia, ele espera promover uma mobilização “mais contagiosa do que o próprio vírus”. A exemplo do que viu acontecer com mães de Fortaleza: em uma ação na capital cearense, havia 50 cartões no valor de R$ 120 reais para distribuir entre essas mulheres; no entanto, 100 apareceram. Então, as primeiras 50 da fila compartilharam o dinheiro com as demais. “Elas fizeram isso não só em um momento difícil do Brasil, mas no pior momento”. O episódio traz indicações de como doar para organizações de ajuda atuantes em todo o Brasil.

Capes: a crise na pós-graduação

From O Assunto

De setembro a dezembro deste ano, por força de uma decisão judicial, centenas de pesquisadores da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior não puderam executar a avaliação de cursos de mestrado e doutorado. Muitos deles responsabilizam a presidência do órgão, ligado ao Ministério da Educação, que não teria recorrido a instâncias superiores com a devida celeridade para reverter esse quadro. Em meio a esse impasse, e diante de uma série de outras denúncias, pelo menos 114 pesquisadores de quatro áreas deixaram a Capes, em movimento inédito. Renata Lo Prete recebe o ex-ministro da Educação e ex-diretor da Capes, Renato Janine Ribeiro, e a repórter do jornal O Globo Paula Ferreira para explicar a questão. Paula apresenta os argumentos dos pesquisadores, segundo os quais a pós-graduação no Brasil “não é mais política de Estado”. Eles apontam ainda falta de diretrizes e de consultas aos técnicos - a presidente da Capes, terceira a ocupar o cargo no governo Bolsonaro, rejeita todas as acusações. Renato lembra que, na produção científica brasileira, "a base de tudo é a avaliação”, um trabalho “barato”, que custa ao governo apenas as despesas dos avaliadores. Para explicar a importância da Capes, Janine lembra que quase toda a ciência no Brasil é feita na pós-graduação. Assim como em outras áreas, ele reforça que, para a ciência, é fundamental ter um plano "que diga quais são as prioridades para o futuro".

Ucrânia: vai ter invasão da Rússia?

From O Assunto

Até meados de novembro, o serviço ucraniano de inteligência estimava em 90 mil os soldados russos deslocados para a fronteira entre os dois países. Os Estados Unidos sugerem que pode ser o dobro, no que enxergam como preparativos para uma ofensiva a partir de janeiro. E ameaçam impor novas sanções a um velho adversário, que por sua vez insinua disposição de pagar para ver. Na perspectiva da Rússia, é a Otan (aliança liderada pelos EUA) que pretende cruzar a “linha vermelha” tentando atrair para seus quadros a mais estratégica das ex-repúblicas soviéticas. Para analisar essa reencenação da Guerra Fria, motivo de teleconferência na terça-feira entre os presidentes Joe Biden e Vladimir Putin, Renata Lo Prete recebe Guga Chacra. O comentarista da Globo em Nova York começa por lembrar que “a Ucrânia faz parte do sentimento de nação dos russos” desde o tempo dos czares e que isso não mudou depois do fim da URSS, em 1991. Para explicar a tensão atual, ele resgata o capítulo anterior, ocorrido em 2014, quando um movimento de inflexão pró-ocidente na Ucrânia terminou com a anexação, pela Rússia, da península da Crimeia. Assim como há sete anos, diz Guga, os americanos não pretendem e dificilmente teriam condições de avançar sobre a vizinhança de Putin. Com outros problemas para resolver, Biden espera, no máximo, manter influência e “uma certa estabilidade na Europa”. Quanto a Putin, embora esteja promovendo a maior mobilização de contingente militar no Leste Europeu em décadas, ainda é cedo para cravar se pretende ir até o fim.

Page 53 of 83 (1659 episodes from Brazil)

🇧🇷 About Brazil Episodes

Explore the diverse voices and perspectives from podcast creators in Brazil. Each episode offers unique insights into the culture, language, and stories from this region.