🇧🇷 Brazil Episodes

1659 episodes from Brazil

O aparelhamento da Polícia Federal

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Desde o início do mandato, o presidente da República é claro sobre seu projeto de subordinação. Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, prometeu trocar o diretor-geral e o ministro da Justiça, se necessário - e assim o fez. “Não estamos aqui para brincadeira”, sentenciou no evento. Desde então, acelerou-se o “processo de tomada da PF pelo bolsonarismo”, como define Allan de Abreu, repórter da revista Piauí. Em conversa com Renata Lo Prete, ele descreve as conexões políticas que levaram ao cargo o atual “DG”, Paulo Gustavo Maiurino, conhecido por subordinados como “delegado de cativeiro”, devido à pouca experiência em investigações. O jornalista observa que, ao decretar o fim do “segredismo” na corporação, durante evento interno em maio, Maiurino estava na verdade escancarando a diretriz de tornar a PF uma “polícia política” nas mãos do presidente. O jornalista recorda outras trocas nas quais “gente de confiança” do Executivo assumiu posições de diretoria ou superintendência portando “currículos não tão auspiciosos” e cita especialmente a perseguição ao delegado Felipe Leal - que, depois de investigar afastamentos suspeitos de colegas, acabou ele mesmo sendo retirado do inquérito que apura a interferência de Bolsonaro na PF. Renata e Allan traçam o histórico de conquista de autonomia e protagonismo da corporação a partir dos anos 2000. “Agora é o oposto”, compara Allan. “Uma delegada me disse: aquilo que a instituição demorou anos para construir foi destruído em meses”.

Por que é preciso exigir passaporte vacinal

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A recomendação da Anvisa, emitida há quase um mês, é direta quanto à necessidade de impedir o acesso ao Brasil de viajantes não imunizados contra a Covid. Em suas notas técnicas, a agência pondera que esse é um movimento global diante do aumento no número de casos e da emergência da variante ômicron, mais transmissível. Em entrevista a Renata Lo Prete, a jornalista Isabela Camargo, repórter da GloboNews em Brasília, observa que a atitude da Anvisa foi apoiada por Estados e municípios, além de reiterada pelo Tribunal de Contas da União. Mas nada disso basta num caso que envolve fronteiras nacionais, lembra a jornalista: “só uma portaria do governo federal pode estabelecer a exigência do passaporte da vacina”. E, diante da ostensiva oposição de Jair Bolsonaro, até uma reunião interministerial para tratar do tema foi cancelada nesta segunda-feira -pouco depois de o ministro do Supremo Luís Roberto Barroso cobrar uma posição do Executivo em até 48 horas. Para Rosana Richtmann, infectologista do Instituto Emílio Ribas, esse comprovante e o de testagem são fundamentais para proteger os brasileiros da ômicron. “Ela é quase outro vírus, se comparada a variantes anteriores”, afirma. “E o problema é que outras virão”. A médica cita o caso da febre amarela, cuja vacina é exigida há décadas por pelo menos 100 países, como exemplo de que “a liberdade individual deve ser limitada quando tem impacto no bem coletivo”. E reforça que, para a segurança do país, não bastam ações de administradores locais: “é necessário o governo federal” agir.

Alemanha: na 4ª onda e sob nova direção

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Depois de 16 anos, a era Merkel deve chegar ao fim nesta quarta-feira, quando o Parlamento se reunir e confirmar Olaf Scholz como chanceler. De cara, às portas do inverno, o social-democrata terá de enfrentar o arrefecimento da pandemia - e a resistência de parte da população a se vacinar. Isso será “prioridade absoluta do novo governo”, afirma Kai Enno Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP. Angela Merkel e seu sucessor vêm trabalhando juntos em medidas nessa área. Depois da transição, no entanto, conflitos em torno de temas menos consensuais podem emergir. Afinal, a coalizão formada é a primeira, desde a metade do século passado, a abrigar três partidos distintos e “ideologicamente bem diferentes” (verdes e liberais completam o trio). “São parceiros pouco naturais, e isso vai produzir muito debate”, sobretudo a respeito da sempre adiada reforma do sistema previdenciário. Entre as concordâncias, ele aponta investimento na transição para uma economia mais verde - o que, prevê o professor, ameaça colocar mais pressão nas tratativas da União Europeia com o Brasil. Na conversa com Renata Lo Prete, Kai também analisa o longo período Merkel. Segundo ele, a cientista que se tornou uma das políticas mais influentes do mundo “encarnou muito bem” a estabilidade que a Alemanha buscava e conseguiu alcançar, mesmo diante de sucessivas turbulências globais. A democracia-cristã de Merkel foi derrotada nas urnas, mas a chanceler sai de cena com alta popularidade. “Ela tem perfil cauteloso, mas, quando a oportunidade se apresenta, ela pega”, resume. “E esse jeito frio de lidar com as crises conquistou os alemães”.

Recessão técnica: daqui vamos para onde?

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O resultado do PIB brasileiro teve o segundo trimestre seguido no vermelho: de acordo com o IBGE, a economia retraiu 0,1% no 3° trimestre de 2021 em relação ao período anterior - condição que coloca o país em recessão técnica. Miriam Leitão, comentarista da Globo, da CBN e colunista do jornal O Globo, analisa em conversa com Renata Lo Prete o processo de recuperação dos índices neste 2021 em relação ao ano anterior - “um Brasil que caiu, levantou mas não conseguiu andar”. E por que estamos ficando para trás em relação ao resto do mundo. Parte das respostas está em Brasília, nas figuras de um presidente “desorganizador e criador de conflitos” e de um ministro da Economia “fora da realidade”. Miriam fala das perspectivas para 2022: com juros mais altos, a previsão é de "economia parada", mas com inflação menor, "em parte pela produção maior da agricultura". E como a alta menor nos preços dos alimentos deve aliviar o orçamento das famílias “que estará apertado por um país que não cresce, e por um desemprego muito alto". Participa também deste episódio Mauro Rodrigues Júnior, professor da USP e economista do site “Por quê? Economês em bom português”. Ele explica a composição do PIB, número que “dá o valor de tudo o que foi produzido”. E como o resultado reflete “a renda total da economia”, além de detalhar os mecanismos para a medição dos resultados. E aponta ainda para onde olhar para diagnosticar a saúde econômica do país: “é preciso entender a renda média”, conclui, ao apontar que, muito desigual, “o Brasil está muito mal”.

Centrão-raiz: esteio de Bolsonaro para 2022

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Depois de passar mais de dois anos sem legenda, Bolsonaro ingressou na nona de sua carreira política. E se declarou “em casa” na cerimônia de filiação ao Partido Liberal, que teve a presença também de lideranças do Progressistas (PP) e do Republicanos. É nesse trio que o presidente pretende apoiar sua campanha à reeleição - na contramão de 2018, quando concorreu como candidato “antissistema”. Neste episódio, Renata Lo Prete conversa com Bernardo Mello Franco, colunista do jornal O Globo e comentarista da rádio CBN, para entender motivos, vantagens e riscos desse consórcio. Bernardo começa por lembrar que, quando deixou o PSL, a ideia de Bolsonaro era criar um partido, mas isso “exige organização e trabalho, duas coisas que não são o forte dele”. Resgata também as opções que o presidente cogitou até finalmente se decidir. “Pesou a favor do PL o fato de ter dono único”, explica. Ele se refere a Valdemar Costa Neto, político de 7 vidas condenado no mensalão e influente em todos os governos. Para o cacique, Bolsonaro representa, no mínimo, um impulsionamento de votos capaz de expandir uma bancada que já é das maiores da Câmara. E, no melhor cenário, oferece a perspectiva de entrar no principal gabinete do Palácio do Planalto “pela porta da frente e sem bater”. Desde que a aliança se mantenha firme até a eleição - o que, Bernardo ressalva, depende de muitos fatores e ninguém tem como garantir.

Boate Kiss: enfim caso vai a julgamento

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São quase nove anos desde o incêndio na casa noturna da cidade gaúcha de Santa Maria, no qual morreram 242 pessoas, a maioria estudantes universitários. A data era 27 de janeiro de 2013, mas “é como se esses meninos e meninas morressem todos os dias” desde então, afirma Daniela Arbex, autora do livro “Todo Dia a Mesma Noite - A História Não Contada da Boate Kiss”. Isso porque, até hoje, ninguém foi responsabilizado pelas irregularidades e negligências que resultaram na tragédia. “Eu percebo que a falta de Justiça dói tanto quanto a morte”, diz a jornalista, referindo-se a suas conversas com familiares e sobreviventes (estes, mais de 600, muitos com sequelas graves). Nesta quarta-feira, depois de longo e acidentado processo, um júri popular começa a decidir o destino de quatro réus - dois ligados à boate e dois à banda que se apresentava no local e deu início ao fogo. Na conversa com Renata Lo Prete, Daniela destaca a luta dos pais, sem a qual, ela acredita, o julgamento jamais aconteceria. A memória daquela noite é motivo de “adoecimento permanente” para eles, que enfrentam ainda a “hostilidade” de outros moradores, que os culpam pelas dificuldades econômicas de Santa Maria. “Hoje, é uma cidade dividida entre as pessoas que perderam seus amores e aquelas que querem que a história seja esquecida”.

Ômicron: por que o mundo tem medo

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Em poucos dias, a nova variante do coronavírus, de origem ainda desconhecida, mas sequenciada primeiro na África do Sul, alcançou o status de “gravidade máxima”, conferido pela Organização Mundial da Saúde. “Foi a mais rápida”, observa Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo. Na conversa com Renata Lo Prete, ela explica o que levou a comunidade científica e o mercado ao estado de alerta em tempo recorde: o risco de que as mutações da ômicron saibam “escapar” da resposta imune desenvolvida por pessoas vacinadas. Nas próximas duas semanas, estima a epidemiologista, os principais laboratórios do planeta devem estabelecer o nível de eficácia dos atuais imunizantes contra a nova variante. Até lá, cabe ao governo brasileiro “ampliar o programa de testagem e de vigilância genômica”. Se for constatado que a ômicron tem mesmo grande potencial de dano, analisa o jornalista do Valor Econômico Assis Moreira, haverá mais pressão para que os países se entendam sobre a suspensão de patentes. Mesmo que ela só venha a se mostrar útil “numa próxima pandemia”. “Vai levar anos para que todos consigam produzir”, ele afirma. E alerta para o relatório em que a OMS prevê mais 5 milhões de mortes “se tudo continuar como está” do ponto de vista da distribuição global de vacinas. No campo da diplomacia, China, Rússia e Estados Unidos prometem a transferência de bilhões de doses para reverter a desigualdade: os países do G-20 compraram 89% de todas as disponíveis - e já anteciparam a aquisição majoritária das futuras. “Já existe vacina suficiente para todo o mundo; o problema é o desequilíbrio”.

Pobreza Menstrual: sociedade reage

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Na esteira do veto de Jair Bolsonaro à lei que prevê fornecimento gratuito de absorventes a mulheres em situação de vulnerabilidade, prosperaram iniciativas locais, dos setores público e privado, para atacar uma carência essencial de milhões de brasileiras. A forte repercussão ameaça reverter o próprio gesto do presidente — está em curso uma articulação no Congresso para derrubá-lo na próxima sessão de análise de vetos, no início de dezembro.

Garimpo: Serra Pelada no Rio Madeira

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Um arrastão de centenas de balsas num dos mais importantes afluentes do Amazonas, lar de cerca de 1.200 espécies de peixes. Atracadas em trecho situado no município de Autazes, a 133 km de Manaus (AM), elas são o traço mais visível de uma corrida do ouro que muitos já comparam à que se deu nos anos 80 na Serra dos Carajás (PA). O repórter Alexandre Hisayasu, que sobrevoou a área, descreve uma “invasão em massa de garimpeiros” que, por lei, não poderiam operar ali. Nesta quinta-feira, depois de duas semanas de tensão escalando, o vice-presidente Hamilton Mourão anunciou que será criada “uma força-tarefa” para lidar com o problema. Em conversa com Renata Lo Prete, o jornalista da Rede Amazônia, afiliada da Globo, detalha o funcionamento do garimpo sobre balsas e seu impacto ambiental - uma vez que tudo, “incluindo mercúrio”, é jogado de volta no rio. Para Raoni Rajão, professor de Gestão Ambiental e Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia da UFMG, esse tipo de ação remete ao modo como agem as Farc do lado de lá da fronteira, “desafiando a autoridade e a soberania do Estado brasileiro”. A ousadia crescente dos garimpeiros, analisa Rajão, relaciona-se com o desmonte de órgãos como o Ibama e o “apoio explícito de parte do poder público” à atividade ilegal. Resultado de uma legislação criada décadas atrás para atender a lógica da lavra artesanal e que hoje é desvirtuada, facilitando a prática de crimes que mobilizam milhões de reais, equipamentos sofisticados e até helicópteros e aviões. Na Amazônia, mais da metade do ouro tem indícios de ilegalidade, afirma o pesquisador, gerando prejuízos de “escala bilionária”, muito superiores aos impostos arrecadados com a mineração legal. “Como um todo, é negativo para a sociedade”.

Carne: embargo da China e outras pressões

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Destino de 15% da carne bovina brasileira, a China suspendeu suas compras no início de setembro, depois que o Brasil reportou dois casos da doença da vaca louca. Agora, depois de mais de dois meses, dá sinal verde para a retomada parcial das importações. Roberto Rodrigues, ministro da Agricultura entre 2003 e 2006, analisa em conversa com Renata Lo Prete o impacto do embargo para o Brasil. Ele explica como a pandemia trouxe à tona duas questões que estão diretamente relacionadas ao agro: sustentabilidade e segurança alimentar. E seus resultados práticos: corrida acelerada dos países pela compra de mais comida, com pressão inflacionária global - com efeito mais severo para o mercado interno, diante da desvalorização do real em relação ao dólar. Em paralelo ao contencioso com a China, o ex-ministro fala sobre a preocupação do agro nacional com o eventual embargo ameaçado pela União Europeia sob argumento ambiental: uma “espécie de barreira não-tarifária”, que ele considera “protecionismo injustificado”. Participa também Rafael Walendorff, repórter do Valor Econômico. Ele atualiza o status da negociação entre os governos para a liberação da carne nos portos chineses e contextualiza a “jogada comercial” da China em derrubar parcialmente o embargo: repõe seu estoque interno de proteína animal (que tradicionalmente cai nos fins de ano) e “sinaliza boa vontade” aos frigoríficos brasileiros.

Para onde vai o Chile no 2º turno?

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Desde a redemocratização, coalizões de centro-direita e de centro-esquerda se alternaram no poder. Uma equação, ao menos na aparência, mais estável que a de outros países da região até 2019, quando milhares de chilenos tomaram as ruas por dois meses. “A panela de pressão explodiu”, resume a socióloga Beatriz Della Costa, diretora do Instituto Update, que estuda inovação política na América Latina. Para ela, dois fatores explicam a virada de vento: “brutal desigualdade social” e “baixo acesso a serviços públicos”. Os protestos abriram caminho para uma Assembleia Constituinte, eleita em maio deste ano, de configuração majoritariamente progressista. E agora, apenas seis meses depois, nova inflexão: no primeiro turno da disputa presidencial, realizado no domingo passado, o candidato da extrema-direita, José Antonio Kast, chegou na frente, com 28% dos votos. Na etapa final, seu adversário será o Gabriel Boric, de esquerda, que obteve 25%. “O que está em jogo é a capacidade de mobilização” de cada um, afirma Beatriz. Para o historiador Felipe Loureiro, os eleitores de Franco Parisi (terceiro colocado, com 13%), serão o fiel da balança. E, até aqui, os sinais são de que Kast teria capacidade de atraí-los em maior número. Loureiro, coordenador do curso de Relações Internacionais da USP e do Observatório da Democracia no Mundo, explica que a agenda econômica e o discurso de ordem de Kast têm aderência no mercado e entre nostálgicos da ditadura -ele é defensor ferrenho de Augusto Pinochet. Já a pauta de Boric, ligada a temas como preservação ambiental e defesa dos direitos humanos, encontra eco no eleitorado mais jovem.

Prévias frustradas: o apagão tucano

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De 1994 até 2014, o PSDB foi protagonista de todas as eleições presidenciais, vencendo as duas primeiras (com FHC) e perdendo para o PT no 2º turno das demais. Mesmo em 2018, Geraldo Alckmin conseguiu reunir a maior coalizão do pleito, antes de terminar em 4º lugar, com menos de 5% dos votos. Naquela altura, “o eleitor antipetista começou a enxergar mais defeitos no partido”, lembra o jornalista Fábio Zambeli, analista-chefe em São Paulo da plataforma Jota. E migrou em peso para Jair Bolsonaro. Desta vez, sem nenhum postulante com força suficiente para se impor de saída na disputa interna, a sigla marcou inéditas prévias para escolher entre João Doria (SP), Eduardo Leite (RS) e Arthur Virgílio (AM). Mas, na hora H, a milionária plataforma de votação simplesmente não funcionou. E agora os tucanos se bicam sobre o que fazer, expondo fraturas de difícil conserto. Na avaliação de Zambeli, o desastre de domingo “é um case de antipropaganda para o eleitor arrependido do voto em Bolsonaro” e empurra ainda mais o PSDB à condição de “plano C” para o espectro político que vai do centro à direita - atrás do próprio presidente e do ex-juiz Sergio Moro. “Há mais dúvida do que convicção na empreitada, seja com Doria ou com Leite”, diz. Favorito para vencer caso as prévias aconteçam, o governador de São Paulo será o mais prejudicado se o impasse se estender indefinidamente.

Amazônia: a marcha batida da destruição

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O balanço anual do Inpe indica, pela quarta vez seguida, avanço do desmatamento na região. No comparativo com o período anterior, a alta foi de 22%, correspondente a mais 13 mil km². Números não apenas assombrosos como ocultados pelo governo desde outubro, para que só viessem à luz depois da Cúpula do Clima da ONU. De posse das informações, o agrônomo André Guimarães, diretor-executivo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazonia (Ipam), dimensiona o estrago: uma perda anual equivalente a quatro vezes o tamanho do Distrito Federal, 90% em operações ilegais e mais da metade em terras públicas, griladas para especulação fundiária. “Ao perder floresta, perdemos biodiversidade, serviços ambientais e ciclos hídricos que ela mantém”, explica. Esse longo período de desmatamento em patamares elevados coincide com o protagonismo dos militares no Conselho da Amazônia, contextualiza a jornalista Marta Salomon, colaboradora da revista Piauí e doutora em Desenvolvimento Sustentável. Ela se baseia em documentos públicos para afirmar que a atual estratégia oficial para o bioma remonta à época da ditadura. “É uma visão de que não se trata de um território estratégico para mudanças climáticas, mas sim de uma fronteira de recursos naturais a ser explorada”. Marta explica também que as Forças Armadas assumiram não só o comando estratégico, mas também o das verbas públicas: em 2020, geriram R$ 370 milhões para a Amazônia, o dobro do que os órgãos ambientais tiveram no período. E os resultados vemos agora.

Os “sem-nada” são quase 30 milhões

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Em um contexto no qual a inflação se aproxima dos dois dígitos e o desemprego nas faixas de menor renda atinge um terço da população, o mês de novembro marca o fim da última fase do auxílio emergencial e a substituição completa do Bolsa Família, criado há 18 anos, pelo Auxílio Brasil. Uma operação que vai empurrar para a pobreza mais brasileiros - a maior parte mulheres, negras, jovens, com filhos, sem trabalho formal e moradoras de periferias e favelas, como descreve Lucia Xavier, assistente social há mais de 30 anos e coordenadora da ONG Criola, que atua no Rio de Janeiro. Ela relata que vê pessoas sem condições de comprar até medicamentos e comida, sobretudo proteínas animais. “As pontas das carnes eram compradas em açougues ou mercados, mas, agora, o recurso não alcança”, conta. O economista Marcelo Neri, diretor da FGV-Social, dimensiona e analisa: a renda dos mais pobres caiu 21,5% desde o início da crise sanitária. “É um Brasil bem pior do que antes da pandemia”. E com sinais econômicos apontando para mais deterioração. Neri explica que, ao olhar para trás, observam-se duas grandes crises - a recessão brasileira de 2016 e a mais recente, agravada pela pandemia. Mas, ao mirar à frente, a paisagem aponta estagflação. E um governo incapaz de focalizar sua política social. Diante de um “apagão de informações” que atrapalha a aplicação das políticas públicas, a vulnerabilidade é a nova regra. “Os mercados gostam de estabilidade, mas são os beneficiários desses programas que precisam muito mais dela”.

Argentina em seu labirinto pós-eleitoral

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O presidente Alberto Fernandez terá que atravessar os dois anos remanescentes de mandato sem maioria no Senado e com vantagem estreita na Câmara. E, nessas condições, enfrentar uma inflação que neste ano já supera 40%, mesmo percentual da população que vive na pobreza. Em conversa com Renata Lo Prete sobre desdobramentos das eleições legislativas de domingo passado, o jornalista Ariel Palacios resgata o histórico de uma crise econômica que vem de longe, foi agravada pela pandemia e agora cobra a conta do condomínio peronista instalado no poder central. “Condomínio que mais parece um hospício”, diz o correspondente da Globo em Buenos Aires. Ele se refere, principalmente, à disputa permanente entre os apoiadores de Fernandez e de sua vice, a ex-presidente Cristina Kirchner - também derrotada nas urnas. Ariel analisa ainda mudanças dentro da coalizão oposicionista, com perda de poder do ex-presidente Mauricio Macri. E recomenda prestar atenção à chegada da extrema-direita ao Congresso, com a eleição do economista “antissistema” Javier Milei.

Lockdown: agora para não-vacinados

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Diante da quarta onda de infecções por Covid-19, a Áustria resolveu resgatar uma medida dos primeiros tempos da pandemia. Pelos próximos dias, vai impor restrições drásticas à circulação de pessoas, mas, desta vez, apenas aquelas que não se imunizaram. Direto de Viena, a jornalista Amanda Previdelli conta que, para entender o presente, é preciso lembrar do que aconteceu desde o verão passado: o distanciamento foi derrubado, e uma hora a vacinação “empacou”. Em parte porque, segundo ela, “o governo falhou em conversar com as pessoas”. Já efeito do isolamento recém-anunciado foi imediato: “filas para fazer teste de PCR e tomar vacina”. Participa também do episódio Bianca Rothier, correspondente da Globo na Suíça. Ela dá um panorama de medidas adotadas por países como Alemanha, Holanda e Dinamarca - num momento em que a Europa voltou a ser o epicentro da pandemia. E mostra que a situação é pior onde a vacinação menos avançou - casos de Rússia, Romênia e Bulgária, por exemplo.

Inflação: a do Brasil e a do mundo

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A aceleração de preços é global. Mas aqui ela não apenas alcança taxas mais elevadas como tem motores específicos. Com a ajuda de dois estudiosos do tema, este episódio procura explicar tanto o fenômeno geral quanto as peculiaridades do caso brasileiro. Para a primeira tarefa, o convidado é Otaviano Canuto, ex-diretor-executivo do FMI e do Banco Mundial. De Washington, onde dirige o Centro para Macroeconomia e Desenvolvimento, ele analisa o momento histórico “extraordinário”, no qual o aquecimento da demanda (especialmente nos países ricos) não encontra correspondência na oferta (ainda impactada pelo efeito disruptivo da pandemia nas cadeias produtivas). Canuto descreve as faces da crise de energia em diferentes regiões e a escassez de mão-de-obra nos Estados Unidos - onde a inflação anualizada é a maior em três décadas. Na comparação com ciclos passados, ele vê vantagem no fato de hoje não haver a “dinâmica perversa da corrida entre salários e preços”, nem economias tão fechadas, o que oferece “possibilidade maior de substituição de produtos”. A questão principal, diz, é “quando os agentes privados acham que a situação vai se estabilizar”. E conclui: não antes do meio de 2022. Renata Lo Prete conversa também com André Braz, pesquisador do Ibre-FGV, que aponta o espalhamento como um dos traços distintivos da inflação brasileira. Puxada sobretudo por energia elétrica e combustíveis (estes sob efeito permanente de uma desvalorização cambial acima da média), ela hoje está disseminada por todos os preços da economia, e em outubro atingiu o maior patamar, para esse mês, desde 2002. Braz chama a atenção para outro elemento complicador: “como nossa inflação não é de demanda, e sim de custos, aumentar a Selic ajuda pouco a resolver”. Ele se refere à elevação da taxa básica de juros que o Banco Central vem promovendo. Melhor remédio, avalia o economista, seria o fiscal. Mas ele mesmo acha improvável que, com uma campanha eleitoral pela frente, governo e Congresso tomem medidas relevantes de corte de gastos.

Avanços e frustrações: saldo da COP-26

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A mais aguardada cúpula climática desde o Acordo de Paris (2015) vai chegando ao fim com resenha mista, feita neste episódio por Daniela Chiaretti, repórter especial do Valor Econômico. Com a experiência de quem cobriu esta e as 12 conferências anteriores, ela destaca, entre os ganhos, o entendimento para cortar drasticamente as emissões de metano - ainda mais poluente que o gás carbônico. Aponta como revés o fato de EUA, China e Índia terem pulado fora de compromisso para reduzir a produção de carvão. E reconhece que, no cômputo geral, os resultados do evento devem ficar aquém da “palavra mágica” que o precedeu: “ambição”. Até porque o financiamento das medidas para conter o aquecimento do planeta “é sempre um problema”, lembra Daniela. Também participando do episódio direto de Glasgow, na Escócia, a administradora pública Natalie Unterstell, especialista em mudanças climáticas, analisa o papel desempenhado pelo Brasil, que chegou à COP-26 “como pária”. Isso obrigou a diplomacia do país a adotar posição “muito humilde” em várias discussões. Para além de gafes cometidas pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, o que fica de mais surpreendente, segundo ela, são concessões feitas num ponto central: os mercados de carbono.

Vacina para crianças: a hora do Brasil

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No mundo todo, a prioridade dada a grupos mais expostos às formas graves de Covid-19 empurrou a imunização dos pequenos para o final da fila. Desde setembro, porém, ela é realidade em muitos países, e por aqui a Anvisa analisa pedidos nesse sentido. Nada mais oportuno, na avaliação de Marco Aurélio Sáfadi, presidente do Departamento de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria. Num momento em que outras faixas etárias já estão mais protegidas, é natural que a participação das crianças no universo de doentes aumente, e com ela a conveniência de vaciná-las. Além disso, diz Sáfadi, a “desproporcionalidade” com que a doença colhe vítimas entre os mais idosos “faz com que a gente se distraia” de uma estatística cruel: o Brasil tem uma das mais altas taxas de mortalidade por Covid entre crianças e adolescentes. Na contramão do Ministério da Saúde, que até aqui manifesta desinteresse em incluí-los no plano nacional, o infectologista defende a medida e prevê que “não vai parar por aí”: logo mais, segundo ele, estaremos discutindo a vacinação de bebês.

Enem: retrocessos em série

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Já são quase 3 anos (com uma pandemia no meio) de ideias fora de lugar no Inep, responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio. Todas no sentido de enfraquecer uma ferramenta essencial de avaliação do aprendizado, que desde 2008 funciona também como maior vestibular do país. Agora, a menos de 2 semanas do Enem de 2021, mais de três dezenas de servidores do instituto entregaram seus cargos, muitos de coordenação do exame. Denunciam um quadro que inclui de assédio moral a fragilidade técnica do comando. “E eles têm provas”, afirma com conhecimento de causa a pedagoga Maria Inês Fini, uma das idealizadoras do Enem, que esteve à frente do Inep entre 2016 e 2018. Para ela, o desmonte do órgão, que no governo Bolsonaro já teve quatro presidentes, não é acidental, e sim um “processo programado de exclusão” - a prova deste ano tem o menor número de inscritos desde 2005. Na entrevista a Renata Lo Prete, ela resgata a história do exame e sua importância para a democratização do acesso ao ensino superior. Participa também do episódio a jornalista da Globo Ana Carolina Moreno, para lembrar que o desmantelamento em curso tem consequências mais amplas do que se imagina: hoje o Inep não divulgou os dados relativos à prova passada, instrumento estratégico para conhecer o perfil dos alunos e definir políticas públicas.

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